Faroeste Caboclo
Diretor: René Sampaio
Elenco: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Felipe Abib, César Troncoso, Antonio Calloni, Marcos Paulo, Rodrigo Pandolfo, Juliana Lohmann, Flavio Bauraqui .
Brasil, 2013.
Conferi o filme “Faroeste Caboclo”, filme inspirado na musica homônima da Legião Urbana já no segundo dia de exibição, não só porque estava na expectativa por ser fã da Legião e da música, mas porque sendo professor recebi ingressos do projeto “Cinema Para Todos” (um cala boca para a classe), que serve para ver de grátis qualquer filme nacional e eram válidos até esse dia. Ao contrário de “Somos Tão Jovens\”, que já resenhei aqui, não louvei o fato de ter conseguido ver sem pagar, pois não me incomodaria de ter gasto algum. O filme é bom.
O diretor, estreante em longas, René Sampaio faz um bom trabalho; além disso, a fotografia é ótima. O modo como ela muda quando João de Santo Cristo vai do semi-árido para o tropical de Cerrado de Brasilia, é muito bem feita e a capital, em pleno período ditatorial, é mostrada em um clima bem pesado, o que caiu bem.
Não preciso contar a história porque você já deve conhecer a musica, o fato é que é bem fiel a letra de Renato Russo. É lógico que há acréscimos, afinal, como fazer um filme de pouco mais de 100 minutos baseado em uma letra de canção, sem criar algo? Tudo bem que a musica é grande, mas não vamos exagerar. Da mesma forma, tirar umas partes também é aceitável em uma adaptação, já que nem tudo funcionaria em uma película.
Os temas centrais estão lá, é um ótimo material para discutir Brasil, desigualdade e preconceito. O choque entre a capital do país (Plano Piloto) e a miséria das cidades-satélites através das drogas, da violência e do amor entre João e Maria Lúcia, é conduzido de forma satisfatória.
Uma coisa que \”Somos Tão Jovens” tentou fazer e não funcionou, foi botar os personagens falando versos e nomes das canções da Legião, já aqui dá certo, porque alguns versos de Faroeste funcionam como diálogos e não ficam forçados; além disso souberam escolher qual trechos realmente se encaixaria no filme, portanto não espere ver Santo Cristo baleado, quase morrendo falando “Jeremias, eu sou homem, coisa que você não é. E não atiro pelas costas não. Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha. Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão\”.
Quanto ao elenco ninguém destoa, Fabrício Boliveira está muito bem como João; Felipe Abib faz um Jeremias muito louco (com a cara do Valdivia); César Trancoso também está muito bem na pele do peruano Pablo que trazia o contrabando da Bolívia e é o primo que abriga João em Brasília. Há ainda os veteranos Antonio Calloni, como um policial corrupto e o falecido Marcos Paulo, como o pai de Maria, seu ultimo trabalho. Maria Clara vivida com doçura pela bela Isis Valverde.
Destaque também para a trilha sonora de Philippe Seabra, da Plebe Rude, e Lucas Marcier, compilação de musicas escolhida é muito boa e retrata bem o período. Por fim é importante lembrar as referências a filmes de faroeste, principalmente nos planos do duelo na Ceilândia. Além disso, não sei se foi só eu, mas percebi uma leve inspiração em “Scarface” no Jeremias.
Enfim, vale a pena assistir, mesmo quem não é fã da musica vai ver um bom filme de drama policial nacional, quem é fã vai ficar até o fim dos créditos ouvindo Faroeste Caboclo, como eu fiquei.