Depois de me deparar com trocentas fancams e hashtags no Twitter, há um tempinho atrás resolvi checar do que se tratava o tal K-Pop, o que rendeu essa matéria aqui. Entre os grupos que conferi, estava o Mamamoo, com o vídeo de Mr. Ambiguous; achei bacana e fiquei de explorar mais a discografia, mas, fazendo uma coisa e outra, acabei esquecendo!
Eis que há umas semanas atrás, o youtube me recomendou um vídeo em que Solar, a líder do Mamamoo (como eu descobriria depois), fez o desafio de ler e comentar “críticas” de haters sem perder a calma. Primeiro de tudo, ela diz que sua companhia não queria que ela fizesse esse tipo de conteúdo, e ela resolveu fazer assim mesmo. E sabendo que companhia de K-pop costumam manter a rédea curta com seus idols, me surpreendeu.
No vídeo, ela fala com uma naturalidade de quem já viu comentários iguais várias vezes (a maioria sobre sua aparência), o que também me chamou a atenção, pois sei que os padrões de beleza coreanos são bem específicos, mas não tinha ideia de que o Mamamoo poderia ser considerado tão fora assim desse padrão.
Por fim, fiquei um tanto surpresa com o conteúdo do vídeo, isso porque nunca tinha visto um idol ter um canal próprio para expressar opiniões, já vi de ex-idol, porém, os canais de quem ainda está na indústria, em geral, são voltados apenas a mostrar um lado mais descontraído do artista, como bastidores, vlogs, práticas de dança, etc. Aliás, não costumo ver idol responder a haters diretamente, provavelmente porque os K-fans são bem, digamos, intensos e a reação poderia ser ainda mais desagradável que as críticas iniciais.
Além disso, dei uma olhada no restante do conteúdo do canal, e tem mesmo bastidores, vlogs, coreografias, desafios, etc, mas também tem vídeo falando, por exemplo, de mulheres que sofreram mutilações, o chamado ponto do marido. Tendo em vista que já teve idol sendo xingada por usar camiseta feminista e, por essas e outras, evitam se manifestar politicamente, fiquei imaginando o que os K-fans deve pensar da Solar.
Enfim, eu amo uma rebeldia e tive que saber mais sobre o Mamamoo.
O que é Mamamoo?
Formado por quatro integrantes (Solar, Moonbyul, Wheein e Hwasa), o Mamamoo debutou em 2014 na pequena empresa RBW Entertainment; na verdade, elas foram o primeiro grupo lançado pela companhia em questão. Sem grandes recursos, Mamamoo começou de baixo, com shows na rua para atrair a atenção das pessoas, além de participar de muitos festivais universitários e programas de rádio, mas hoje são um dos principais girl groups da Coreia do Sul.
Com suas referências ao jazz, r&b, hip-hop e música cubana, visuais vintage e letras que criticam abertamente os padrões coreanos, o grupo é bastante único no cenário do K-pop. Além disso, as integrantes são bem diferentes da imagem típica dos idol: impecáveis, porém, muitas vezes, meio sem personalidade. Bem caóticas, o grupo ganhou dos fãs o apelido “Mememoo”.
Mamamoo e Quincy Jones
O nome do grupo vem de “mama” (mãe) e o som que bebês costumam fazer, indicando que o som do grupo é intimista e pessoal. Moo também significa rabanete, e é por isso que o lightstick do grupo (os coreanos amam usar lanternas em shows, principalmente quando é um festival ou premiação, como forma de identificar os fandoms) tem a forma do vegetal. Uma curiosidade: muita gente brinca que o lightstick do mamamoo é um vibrador, pois ele não só acende a luz como emite vibrações, mas a razão é nobre: foi insistência das integrantes, que queriam incluir os fãs deficientes visuais.
Ainda no período de trainees, o Mamamoo se apresentou em uma festa para convidados vips, incluindo o lendário músico e produtor Quincy Jones, que visitava o país. Assim, as meninas performaram Mr. Ambiguous, composta especialmente para Jones. Mais tarde a letra passou por algumas alterações e se transformou no primeiro single de trabalho do grupo.
Conceito: versatilidade
Imagem é algo muito importante na formação de um grupo de K-pop, as vezes suplanta outros aspectos essenciais, como canto e carisma. Só para não criarmos um mal entendido, não estou dizendo que outros idols não possuem talento, mas que as empresas dispensam artistas talentosos por não se encaixarem nos padrões.
Quando o Mamamoo foi formado, a empresa afirma que visava criar um grupo que fosse mais que idols, fossem artistas, por isso queriam moças que soubessem cantar e tivessem ao menos noção de como produzir uma música; aspectos como aparência e idade não seriam levados em consideração. Isso soa muito bem, mas eu não comprem logo essa imagem de empresa moderninha, mas direi mais sobre isso daqui a pouco.
Na minha análise, acho que a RBW viu a oportunidade de se destacar apresentando ao público algo diferente, o que é uma estratégia mais inteligente do que se misturar na paisagem mostrando mais do mesmo. Outro motivo acredito que tenha sido financeiro. Uma empresa pequena possivelmente não tinha como ficar 4, 5, 6 anos preparando um grupo ou ter um exército de produtores e compositores a disposição, assim, era mais prático apostar em moças que ao menos tivessem uma ideia do que fazer.
Por isso, Mamamoo é um dos poucos grupos da indústria com ampla liberdade criativa. Desde o debut, as integrantes participam da composição e produção das músicas, conceito dos videoclipes e escolha de figurinos. Inclusive, com a empresa sem muito dinheiro para gastar, elas mesmas elaboravam as coreografias e cuidavam da própria maquiagem. Vale ressaltar ainda que todas tocam pelo menos um instrumento, entre violão, piano, bateria e instrumentos de percussão tradicionais coreanos.
Diferentemente de outros grupos de K-pop, o Mamamoo não tem um conceito fixo, como sexy ou fofo, o único conceito é versatilidade. Isso se reflete no fato do grupo não possuir uma hierarquia entre as integrantes (main>lead>sub) nem posições fixas, pois as rappers cantam, as cantoras podem fazer rap e todas dançam bem. É muito satisfatório notar como as músicas e videoclipes são bem divididos para que todas brilham igualmente.
Outra coisa que Mamamoo não tem é posição de “visual”, que basicamente significa que a pessoa se enquadra nos padrões de beleza coreanos. Entendo que isso é uma questão cultural, mas me incomoda bastante, pois muita gente fica marcada com o rótulo de “visual” e tem seus outros talentos subestimados.
Voltando a falar de versatilidade, outro reflexo é musicalmente. Mantendo sua própria identidade, o grupo passeia por vários gêneros e conceitos. Isso porque todas as integrantes contribuem criativamente, e são quatro mulheres com estilos bem diferentes, assim seus interesses e gostos se mesclam nas músicas.
Ao vivo, Mamamoo também é notável, sempre com vocais impecáveis e sem playback, inclusive elas são ótimas também acapella. Além disso, as integrantes são carismáticas e sempre procuram mudar as apresentações, fazendo das alterações de letras e ad libs uma marca do grupo.
Outra característica do grupo é o senso de humor, que vai contra aquela imagem polida de idol que citei. O Mamamoo é definitivamente o girl group mais aleatório e divertido do K-pop, e o melhor é que usam isso na música. O grupo tem canção sobre a o humor besta delas, contando piadas de tio do pavê, sobre a diferença de altura de apenas 1 cm entre as integrantes, todas baixinhas (vou falar mais depois, pois essas duas pérolas têm vídeoclipes. Tem ainda música dando receita de comida
Sobre ter que dormir no carro, quando o grupo está muito atarefado
Leva ao extremo o conceito fofo, com uma música sobre amar filhotes
Outra coisa que você precisa saber sobre o Mamamoo é que elas não estão nem aí para as normas. O grupo constantemente bate de frente com o conservadorismo coreano, o que as levam a ser um grupo controverso, que divide opiniões. Alguns exemplos:
Essa apresentação no Mama em que Hwasa se apresentou de collant e Solar fez pole dance
Apoio aos direitos LGBTQIA+. Elas já declaram abertamente apoio a causa. E como eu falei antes, se manifestar politicamente é bem incomum entre idols, especialmente os muito famosos, então isso é sim digno de nota. \” Sejam homens ou mulheres, são pessoas. São pessoas que você pode amar. E você não pode dizer que um ou outro está errado. As pessoas simplesmente têm pensamentos diferentes, elas não estão erradas\”, escreveu Moonbyul, em uma postagem em 2017.
Apoio ao movimento black lives matter. Somente alguns idols se manifestaram e houve até um caso de uma idol que teve sua conta desativada pela empresa depois de falar do movimento.
Essa apresentação full sexy no reality show Queendom, exibido na tv coreana
Essa outra apresentação que contou com a participação do grupo queer de dança, Pinky Cheeks. Dá para ver o choque dos idols que assistiam a performance.
Beber. Ingerir bebida alcoólica é um comportamento mal visto em idols, mesmo nos adultos, pois eles deveriam servir de exemplo para os mais jovens e aparentemente aparecer bebendo implica automaticamente em alcoolismo. Algumas empresas até proíbem que seus artistas bebam. O Mamamoo não se importa e já virou tradição as integrantes estarem bêbadas nas lives de comemoração de aniversário do grupo.
Quem são as integrantes do Mamamoo?
Solar
Solar, ou Kim Yong-sun, é a líder do grupo, dona de vocais poderosos e um timbre que me lembra um pouco a Amy Winehouse. Apesar do talento, ela foi recusada em mais de quarenta audições em diversas empresas. Motivo? “Velha demais” para ser tornar idol. Em geral, as empresas recrutam adolescentes para serem trainees. Porém, Solar já passava dos 20 quando decidiu tentar carreira artística. Ela tinha 22 anos, quando a RBW a admitiu e 24 quando o grupo debutou.
Apenas o fato de Solar seguir em atividade mesmo estando perto dos 30 já é uma afronta aos padrões da indústria, já que com essa idade a maioria das mulheres está encerrando a carreira.
Moonbyul
Moonbyul, ou Moon Byul-yi, é a rapper do grupo. Como byul significa estrela, ela costuma chamar a si mesmo de Moonstar nas músicas. Eu tenho uma relação meio conturbada com rap em K-pop (no pop ocidental também), por que às vezes é cool, mas outras simplesmente não precisava fazer parte da música. Mas, gosto bastante do estilo da Moonbyul, que é bem agressivo, o que, juntamente com seu timbre grave, a torna uma rapper única, já que a maioria das moças rapper do K-pop tem timbres mais agudos. Byul também escreve seus raps, sendo atualmente uma das mulheres com mais créditos em composições.
Moonbyul é a prova cabal de que as integrantes do Mamamoo escolhem mesmo as próprias roupas, pois seu estilo é bem “tomboy”, mas nem sempre. Explico: em outros grupos, já houve meninas que se vestiam de forma menos feminina, como o 2ne1, porém por imposição da empresa. A integrante Minzy contou que não podia usar saias e vestidos, coisa que ela gosta, para manter a imagem de moleca do grupo. No caso de Moonbyul me parece ser uma escolha pessoal, já que ela sempre fala que deseja quebrar as barreiras tradicionais de gênero. Além disso, vez por outra ela é aparece com roupas mais tipicamente femininas. Ou seja, não se trata de uma personagem.
Há quem se refira a Moonbyul como andrógina, mas não creio que seja certo, a menos que você esteja falando única e exclusivamente de moda. Androginia significa ter gênero impreciso e não creio que Byul não se enxergue como mulher. Na verdade, ela já disse inclusive que não gosta quando os fãs a chamam de oppa (algo como irmão, que indica respeito por alguém mais velho que você, para mulheres é unnie), pois está certa de sua identidade como mulher, mesmo que tenha traços comumente associados a homens.
Wheein
Jung Whee-in é excelente cantora, assim como Solar, mas possui um timbre mais doce. Ela também é artista plástica e já compôs para séries e doramas.
Wheein e Hwasa são amigas de infância e iam juntas as audições. Outra curiosidade é que ela quase debutou com Moonbyul em outro grupo. As duas eram trainees em outra companhia, mas o projeto não foi para frente.
O Mamamoo é um grupo bem mais transparente que costuma-se ver no K-pop. Prova disso é que Wheein, que sofre de ansiedade, já ficou um período se tratando e isso foi divulgado, enquanto o comum é as empresas esconder esse tipo de problema e, pior, há relatos de empresas que não deixam a pessoa fazer uma pausa para cuidar da saúde mental.
Hwasa
Hwasa, ou Ahn Hye-Jin, tem um timbre bastante único, que lembra cantoras de jazz dos anos 50/60, além de ter uma presença digna de divas como Beyoncé e Rihanna.
Mamamoo é um grupo bastante criticado pela aparência, mas Hwasa, certamente é o principal alvo, por possuir um tom de pele escuro, que é considerado feio por lá. Isso porque na Coreia, no período imperial, a pele escura era associada aos camponeses, por pegarem mais sol, enquanto a pele pálida era característica nobre. Sendo assim, mesmo hoje em dia, os padrões de beleza seguem essa premissa elitista.
Além disso, a cantora é bastante curvilínea e tem o rosto redondo. Dessa forma, quando fazia audições, Hwasa ouviu que tinha talento, mas nunca poderia ser uma idol, pois era “gorda e feia”. Obviamente, o comentário a abalou, mas ela conta que deu a volta por cima e decidiu que se ela não se encaixava nos padrões, criaria então novos.
Mamamoo: álbuns
Mamamoo tem na carreira quatro álbuns, (Melting – 2016, Memory – 2016, 4Colors – 2019, Reality in BLACK – 2019) e oito mini álbuns (Hello – 2014, Piano Man – 2014, Pinky Funky – 2015, Purple – 2017, Yellow Flower – 2017, Red Moon – 2018, Blue;s – 2018, White Wind – 2019). Sobre os mini álbuns, os quatro últimos representam as cores e estações preferidas de cada integrante, trazendo uma música solo. Assim, amarelo/primavera é da Hwasa; vermelho/verão é Moonbyul; azul/outono é Solar; e branco/ inverno é da Wheein.
Além disso, Hwasa lançou nesse ano seu ep solo, que tem como título seu nome de batismo (ela é católica): María.
Vamos falar de vídeos
O Mamamoo, principalmente em início de carreira, tem produções bem mais modestas do que grupos das grandes campanha, como Blackpink ou Twice. No entanto, o vídeo são caprichados em termos de conceito, design de produção, montagem e fotografia. Fora isso, as meninas parecem sempre se divertir muito.
Mr. Ambiguous – 2014
A música é sobre flertar com o sr. ambiguidade do título. Primeiro vídeo do grupo, segue a pegada retrô da música, com referência de jazz e uma certa inspiração nos gráficos das aberturas de filmes de 007. A cantora e produtora Baek Ji-young, respeitadíssima por lá, faz uma participação. Ela visitava as filmagens e a produção teve a ideia de fazer uma pegadinha com o Mamamoo, em que ela diz ter detestado tudo, o que acabou ficando no vídeo.
Piano Man – 2014
Basicamente, Piano Man fala sobre sexo (Ei, pianista, suas mãos dançantes/ O pianista, seus incríveis movimentos corporais), de forma sutil, mas ainda sim, algo não muito comum para girl groups. O vídeo tem inspiração noir e é um dos melhores do grupo.
Ahh oop – 2015
Ironizando os padrões masculinos, Ahh opp fala que para conquistá-las, vai ser preciso mais do que beleza ou coragem. O vídeo é inspirado no layout de revistas dos anos 50/60 e tem as moças aterrorizando um coitado em uma barbearia.
Essa música conta com a participação da cantora, compositora e rapper eSNa. E por conta da história por trás dela, disse antes que não se devia comprar a empresa RBW como progressista assim e muito menos body positive.
eSNA compôs e produziu diversas faixas para o Mamamoo, mas Ahh oop seria, a princípio, sua música; contudo, a empresa achou que um feat seria melhor. A artista contou em vídeo, que decidiu ceder porque estava ansiosa para lançar algo e achou que poderia demorar mais ainda, caso recusasse a participação. A relação da as integrantes do Mamamoo é boa e a parte de dividir a música e gravar foi tranquila. Os problemas começaram durante a fase de promoção.
A artista não teve os mesmo privilégio do Mamamoo e não pode escolher suas roupas. Lhe deram um terninho, que ela não gostava, e ainda disseram que ela tinha que emagrecer, do contrário a empresa não a deixaria se apresentar com o grupo. Além disso, a música foi lançada inicialmente como apenas do Mamamoo, o que foi corrigido depois. Mas, o pior veio depois da primeira apresentação em um dos programas musicais coreanos.
O K-fans, como de costume, criticaram bastante a aparência de eSNa, dizendo que ela era “gorda” e parecia “mais velha” que as meninas. Porém, o que pode ter tido mais peso, é que fãs do grupo reclamavam que a música não precisava dela e que sua presença reduzia as partes das integrantes. Com essa rejeição, a empresa decidiu que o Mamamoo se apresentaria só, durante as outras promoções, com Solar e Moonbyul repartindo as partes de eSNa. Total desrespeito. No final da performance, Hwasa disse: “eSNa nós amamos você”, o dá uma ideia do mal-estar que a situação deve ter deixado para o grupo também.
Um Oh Ah Yeh – 2015
O vídeo, super colorido e propositalmente cafona, segue a historinha que a música conta, com Solar correndo atrás do “homem” interpretado por Moonbyul. Dessa forma, a música brinca com os padrões de gênero, de que mulheres devem aguardar serem abordadas e de que há uma forma masculina e feminina de se vestir.
A imagem abaixo foi divulgada na imprensa, como \”Solar está namorando um rapaz misterioso\”, obviamente, se tratava de Moonbyul e era apenas um teaser de Um Oh Ah Yeh.
Taller Than You – 2016
Taller Than You é um diss track em que as integrantes zoam a altura uma das outras, sendo que apenas 1 cm as separa. O vídeo e a música era para ser apenas uma brincadeira para os fãs, mas acabou fazendo bastante sucesso. O clipe é simples, com várias referências a altura, mas bem montado e super divertido
You\’re The Best – 2016
De volta à paquera e aos anos 60, o Mamamoo tenta conquistar o funcionário do hotel, o que pode não ser muito saudável.
New York – 2016
Cenários de tantos filmes e localização da Brodway (musicais também são grande influência nas músicas e coreografias do Mamamoo), Nova Iorque aqui aparece simbolizando o ato de perseguir e conseguir realizar um sonho. O vídeo tem uma montagem fofa, cheia de referências a cidade, enquanto Wheein parece ter saudades do namorado que ficou na Coreia (será mesmo?).
Décalcomanie – 2016
A música fala sobre amor à primeira-vista, mas também sobre sexo, mais uma vez de forma sutil (Seus sussurros me acordam <Eu me sinto bem>/ Seus gestos, seu corpo <Eu me sinto bem>/ Esta manhã com você <Eu me sinto bem>/ Eu me sinto bem, bem, bem, bem). O visual do vídeo é bem elegante, com uma pegada anos 50/60, como Piano Man. As sequencias em que as integrantes dançam uma frente a outra, em perfeita sincronia, como que em frente ao espelho, são muito satisfatórias.
A primeira versão do vídeo teve que ser deletada, pois os fãs ficaram incomodados com a sequência em que o ator empurra Solar contra a parede o elevar e, a princípio, a beija à força, logo após ela cede e retribui. Quando li sobre a polêmica, cheguei a pensar que a galera poderia ter exagerado, mas depois que pude assistir, admito que é de mal gosto mesmo, pois ela parece assustada e não interessada, como acontece nas cenas de beijos das outras meninas. Acredito que não tenha sido intencional, mas, de qualquer forma, achei melhor que tenham editado o vídeo (em 4:24)
AZE GAG – 2017
Aze Gag é uma música composta com piadas velhas, por aqui chamadas de piadas de tio. O vídeo coloca o Mamamoo em uma escritório, que é um ambiente normalmente associado a homens mais velhos.
Yes I Am – 2017
A música fala com orgulho (Sou uma mulher confiante/ Uma mulher com groove) sobre vários pontos que fazem com que as integrantes do Mamamoo não se enquadrem nos padrões de beleza e comportamentais coreanos, como usar pouca maquiagem, preferir roupas confortáveis, ter o rosto redondo (cirurgias plásticas para deixar o rosto no formato oval e reduzir bochechas são comuns). O vídeo é simples, porém com suas cores vibrantes, os figurinos e a montagem, acho um dos clipes mais bacanas do grupo, junto com Piano Man e Wind Flower.
Paint Me – 2018
Paint Me faz do processo de pintura de uma tela, uma metáfora para encontrar o amor. O vídeo utiliza o contraste da imagem em preto em branco com apenas um elemento colorido (tipo em Sin City). As cores de cada integrante, como nos mini álbuns também são utilizadas: Solar – azul, Moonbyul – vermelho, Wheein – branco e Hwasa- amarelo.
Starry Night – 2018
A música fala do término de uma relação, mas não de forma triste, afinal, uma noite estrelada indica que o dia seguinte deve ser claro. Me soa como algo que poderia ter sido produzido pelo David Guetta. O vídeo é cheio de imagens da natureza e as cores são novamente um destaque:
Egotistic – 2018
Seguindo a vibe da música, o vídeo tem influência latina, especialmente Cuba. Vi algumas pessoas apontando a Espanha como referência, por conta dos vestidos vermelhos, que seriam alusão ao flamenco, porém trajes tradicionais cubanos são semelhantes, só que aparecem em várias cores. Além disso, as fachadas coloridas que aparecem ao fundo em algumas cenas lembram as casas multicoloridas em Havana, somando às plantas tropicais, o carro antigo e flor no cabelo, apostaria mais em Cuba (mas posso estar enganada ¯\\_(ツ)_/¯).
A letra fala do egoísmo masculino, que pode ser entendido como o egoísmo dentro de uma relação amorosa, mas eu também interpretei como na relação idol x fanboys (Agora estou fazendo o que eu quero (…)/ Eu quero viver minha vida do meu jeito/ Eu tive que me ajustar a você/ (…) É assim todos os dias / Mesmo com minha gentileza/ Você só liga para o que é certo para você)
Wind Flower – 2018
Wind Flower é minha canção favorita do Mamamoo e também vídeo favorito. A música fala de um término, mas seu significado pode ser facilmente estendido para qualquer momento de tristeza (Como uma flor que florescerá de novo (florescerá de novo, sim)/ Eu melhoro um dia após o outro (…) Os dias depressivos vão embora). O vídeo tem um visual retrô anos 90 e acompanha o clima melancólico da música, além de ser uma celebração à amizade entre as integrantes do grupo. A fotografia, bastante saturada e granulada, me lembra os filmes do Wong Kar-Wai.
gogobebe – 2019
A música fala de deixar o stress e preocupações de lado para se divertir. No vídeo, o Mamamoo está padecendo de tédio, até receberem o convite para uma festa. Mais uma vez, as cores e figurinos impecáveis são destaque:
Hip – 2019
Hip é meio que uma música para os haters do grupo, pois menciona algumas de suas “críticas” mas também uma música que fala de seguir sendo quem você é, sem dar atenção aos comentários maldosos, pois ouvir os haters é como “cuspir no seu próprio rosto”.
A música também cita dois episódios que aconteceram com Hwasa. Na Coréia do Sul há um trend de moda de aeroporto, então é muito comum os idols serem fotografados quando viajam; pois bem, Hwasa foi bastante criticada quando foi fotografada sem sutiã (aff), poucos dias depois ela apareceu vestindo apenas um top esportivo e foi mais uma vez criticada. Além disso, a música faz uma crítica a toda essa cultura do idol impecável ( Beep, beep, beep, continue falando do meu estilo/ Eu não me importo muito, só me mantenho em ação/ (…) Camiseta manchada, batom saindo da boca/ Cabelo oleoso, eu não me importo)
O vídeo traduz essa vibe bad ass da música, com as meninas encarnando diferentes personagens, como que em um multiverso, que meio que resumem a personalidade de cada uma. Solar é a princesa, a boxeadora e a rockstar (com uma banda formada por drag queens); Moonbyul é a coreógrafa, a diretora e a empresária; Wheein é a ativista, a pintora e a hippie; por fim, Hwasa é presidente, mãe e dançarina burlesca.
Solos
Todas as integrantes do Mamamoo tem trabalhos solos:
Wheein feat. Sik- K – Easy (2018)
A música é sobre uma mulher que cansou de se anular para que a relação desse certo (Por consideração, me ajustei a você/ Eu gostei mais de você/ Do que de mim/ Já estou mudando de ideia/ Me prendi em você e agora vou me libertar), com uma sonoridade bem pop anos 90. Como também era comum em vídeos dessa época, há referências a videogames. Hwasa faz uma participação especial.
Moonbyul feat. Seulgi – Selfish (2018)
O vídeo e a sonoridade de Selfish é leve e até fofinha, o que é inesperado em se tratando de Moonbyul, porém a letra é bem séria e fala sobre ser obrigada a se enquadrar nas normas sociais, sem ter liberdade para escolher: Isso tornou-se uma norma social/ Eu não sei – ninguém disse, blá blá/ Enquanto eu me importo com como eu me pareço/ Apenas meus sentimentos são feridos/ Eu acho difícil quando sou obrigada a/ Escolher o mesmo cardápio/ Eu irei escolher sozinha dessa vez (…)/ Eu quero ser egoísta/ Eu ainda tenho muitos desejos/ Para ter que me ajustar aos padrões do mundo/ É melhor fazer do meu jeito/ Eu me amo/ Eu quero ser livre/ Apenas ser livre.
Acredito que a alusão a elementos infantis no vídeo, simbolize a liberdade com que crianças normalmente se expressam, antes de serem tolidas pelas regras sociais.
Hwasa – Twit (2019)
A música fala de um homem que idolatra uma mulher que não o ama, que por sua vez mantém a relação apenas pelo ego: Você é um idiota/ Idiota, idiota, idiota, idiota/ Eu não gosto disso, ninguém gosta disso (…)/ Você é um idiota/ Um homem que apenas me conhece (…)/ Dê uma olhada ao seu redor ao menos uma vez (…)/ Você me faz leal, me faz heroína, me faz genial.
As imagens do vídeo são metáforas para essa posição de superioridade da mulher da música e sua sensação de sufocamento.
Moonbyul – Eclipse (2020)
A música utiliza a metáfora do eclipse para falar em proteger alguém da escuridão. O vídeo utiliza o contraste luz (branco) e trevas (preto) e é praticamente uma performance de dança:
Solar – Spit Out (2020)
Antes de falar da letra e do vídeo Spit out, acho que vale a pena entender um pouco mais da Solar, que se auto define como louca. Mamamoo é um grupo bastante zoeiro, mas Solar certamente a integrante mais sem noção. Ela fala/ faz o que vem a cabeça, é barulhenta e totalmente sem vergonha (no bom sentido). O que é de se estranhar, porque normalmente o líder nos grupos de K-pop é o indivíduo mais sério e responsável.
Contudo, à medida que conheci o grupo melhor, percebi que os dois apelidos que Solar tem, a descreve perfeitamente: yeba (um contração das palavras yeppeun e babo, que significa bonita e boba), e a abreviação de seu nome, já que Young significa dragão, animal mitológico que na cultura chinesa e também coreana, simboliza força e nobreza. Ela tem mesmo esse lado palhaça, mas sabe apoiar as outras integrantes e também corrigi-las quando algo não está certo. Inclusive quando alguém erra uma letra ou coreográfia, pode reparar, que elas sempre olham primeiro para Solar.
Além disso, a cantora é bastante enérgica e decidida, tanto que é longa a lista de coisas que ela fez, mas a empresa não apoiava, como o conceito Rock com a participação de drag queens no vídeo de Hip, tal qual os idols homens fazem, rasgar a blusa no palco, e também criar Spit Out. A RBW não achava boa ideia escrever uma música sobre fazer o que bem entende (acredito que seja porque isso poderia ser interpretado como arrogância). Porém, Solar explica que a música é sobre se expressar sem medo. Ela também faz referencia ao apelido de dragão, já que diz: Cuspo com meus lábios quentes/ Cuspo com meus lábios vermelhos.
Quanto ao vídeo, a empresa também foi contra a cena em que ela aparece careca. Segundo Solar, nessa cena ela queria se mostrar em um estado mais “natural”. Acho que ela não mentiu quando disse que faz o que bem entende.
Hwasa – Maria (2020)
Como já mencionei que Maria é o nome de batismo de Hwasa, então a letra da música é como se ela falasse com si mesma, para dar menos ouvidos às críticas e se valorizar mais (Oh, Maria, estou falando isso pra você/ Por que você está fazendo tanto esforço?/ Você já é linda). O vídeo é bastante metafórico, mas representa bem essa ideia de se perder em autocrítica. Inclusive super fofa a participação das outras integrantes no final do vídeo, como que tirassem Hwasa dos pensamentos autodestrutivos.
Mamamoo tem retorno marcado para 20/10, quando um novo videoclipe deve ser lançado. Já em 03/11, é a vez do novo mini álbum do grupo, chamado Travel.