Direção: John Doo
Elenco: Aldine Muller, Sérgio Hingst, Patrícia Scalvi
Brasil, 1978
Ninfas Diabólicas é uma daquelas belas curiosidades do cinema nacional de outrora. O protagonista do longa é um coroa classe média (Hingst) casado e pai de dois filhos. Num belo dia, depois de deixar os filhotes na escola, ele dá carona a duas estudantes no caminho para o trabalho. Como as duas estudantes em questão são as belas Aldine Muller e Patrícia Scalvi, ele é facilmente convencido a desviar de seu caminho e dirigir até uma praia deserta, onde há uma casa abandonada, e desfrutar da companhia delas. Acontecimentos estranhos deixarão o clima agradável da praia paradisíaca extremamente pesado e tudo aponta que a pulada de cerca não vai terminar muito bem.
Filmado na era da pornochanchada, Ninfas Diabólicas até cede a algumas convenções do cinema da época, como a nudez, mas consegue fazê-lo de uma forma diferenciada. Suspense com toques sobrenaturais, suas cenas de erotismo são bem sofisticadas. Lento, durante boa parte do longa parece que pouca coisa acontece, até vir o desfecho bem bacana. Desfecho esse que pode ou não ser surpreendente, dependendo do espectador. De qualquer forma vou evitar escrever mais sobre o desenrolar da aventura do personagem principal para evitar spoilers (ou tentar).
O roteiro de Ninfas pode às vezes passar a impressão de ser simplório, parecendo dar “saltos” para a trama andar, mas tudo pode ser facilmente perdoado quando o sobrenatural entra em cena. O longa acerta na escolha do seu ator principal, bem distante do padrão de galã, o que alimenta ainda mais a sensação de que algo está errado. A trilha sonora de Rogério Duprat soa esquisita o tempo todo, indo do infantil ao bizarro, dando uma sensação de sonho transformando-se em pesadelo.Outro grande acerto também é o filme não dar explicações ao final. Se tem uma coisa que eu não curto é filme de horror que acha que tem que explicar tudo bem bonitinho, tintim por tintim. A inversão de papéis das moças em determinado momento do filme também é genial, dando aquele ar de brincadeira diabólica.
Esse foi o primeiro filme de John Doo. Nascido Chien Lien Tu na China, em 1942, Doo mudou-se em 1950 para o Brasil. Talvez devido a sua direção o filme tenha um quê do cinema de horror oriental. A trama, que poderia ser uma bela desculpa para uma mera pornochanchada, ganha um clima surreal, onirico. Aldine Muller está no auge da beleza na fita (e ainda segue muito bela hoje em dia, como pudemos conferir recentemente em Dois Coelhos). Patricia Scalvi, perfeita no papel de Circe, foi uma das musas do cinema da Boca do Lixo e mais tarde se tornou uma das dubladoras mais requisitadas do Brasil.
Segundo o Filmow, Ninfas teria 90 minutos de duração. Já no IMDB são 85 minutos. A cópia que assisti, ripada de um VHS, tem apenas 74 minutos. Então não sei se vi o filme completo. Ao menos, não notei nenhum corte mal-feito, tipo aqueles que a Globo faz pra encaixar um filme de duas horas e pouco na Sessão da Tarde. Enfim, Ninfas é um filme bem interessante que prova que o cinema tupiniquim também sabe fazer (bom) cinema fantástico.
Há uma bela seleção de filmes do gênero realizados que permanecem esquecidos hoje. Distribuidoras como a Versátil (que lançou recentemente um volume da Obras-Primas do Terror só com clássicos japoneses) e Obras-Primas do Cinema (que está pondo no mercado um box com algumas obras do espanhol Jesse Franco) bem que podiam estudar um lançamento de uma caixa com essa e outras produções do gênero realizadas em Terra Brasilis, como O Anjo da Noite (que antecipou os filmes de horror com babysitters) do Khouri, restauradas e com extras. A memória nacional (tão maltratada) agradeceria.