Direção: Walter Hugo Khouri
Elenco: Paola Morra, Rosina Malbouisson, Karin Rodrigues, Maria Rosa, Serafim Gonzalez, Selma Egrei
Brasil, 1978
O gênero horror no cinema brasileiro não se resume aos clássicos de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Vários outros cineastas de Terra Brasilis também já se aventuraram pelo campo do sobrenatural. O cineasta Walter Hugo Khouri é um deles.
Realizador de fitas repletas de pessimismo, Khouri investiu no horror psicológico em dois filmes na década de 70. Sua primeira incursão no gênero foi O Anjo da Noite (1974) , onde Selma Egrei vive uma babá aterrorizada por insistentes telefonemas anônimos (bem antes da versão original de When a Strangers Call, de 1979). Em 1978, ele voltaria a investir no cinema fantástico e entregaria o superior As Filhas do Fogo, que nada deve as produções góticas dirigidas por Bava ou mesmo as fitas de horror psicológico de Polanski.
Ana (Malbouisson) chega a casa de campo da namorada Diana (a linda atriz italiana Paola Morra). O encontro das duas mulheres com um viajante que surge pedindo comida e com uma estranha vizinha parapsicóloga, que conheceu a falecida mãe de Diana, irá desencadear uma série de estranhos eventos.Sem ligar para as acusações de que fazia filmes sem “brasilidade”, Khouri busca claramente fazer um longa metragem de temática universal.
A protagonista é uma atriz europeia e as locações no Rio Grande do Sul garantem uma ambientação espetacular, com todas as casas góticas e florestas cheias de névoa que a produção tem direito. O longa também não tem as inúmeras cenas de sexo comuns em fitas da época. Alguma nudez e só. O relacionamento amoroso das duas protagonistas em nenhum momento apela para o fetiche. Eu diria que a fita até passa bem no teste de bechdel.
Com a sombria trilha de Rogério Duprat e um forte clima de sonho/pesadelo, Filhas mergulha em questões existenciais e é carregado de simbolismos como os melhores filmes do gênero. Tem também uma das mais impressionantes assombrações que já vi em um filme. Apenas a presença muda e o olhar penetrante da belíssima Selma Egrei são capazes de petrificar qualquer um.
Filhas tem também uma bela fotografia, de Geraldo Gabriel, tão atmosférica quanto as melhores obras do já citado Bava, que infelizmente não pude admirar por completo porque a única cópia disponível nessa internet foi ripada de uma exibição na sessão Made in Brazil da Bandeirantes nos anos 90. Alô distribuidoras, já passou da hora de alguém restaurar essa obra-prima gótica e relançá-la com o destaque que merece.