Título: | Red Sonja |
Título Original: | Red Sonja |
Direção: | MJ Bassett |
Roteiro: | Tasha Huo |
Elenco: | Matilda Lutz, Robert Sheehan, Wallis Day, Luca Pasqualino, Rhona Mitra |
País: | EUA |
Ano: | 2025 |
Projeto demorou, mas infelizmente saiu do papel
Apesar de Robert E. Howard ter sido um escritor com um estilo extremamente cinematográfico, suas histórias quase nunca encontram boas adaptações nas telonas. As exceções são raríssimas. Conan, o Bárbaro (1982) é uma obra-prima absoluta — e filme de cabeceira deste que vos escreve. Já Conan, o Destruidor é apenas aceitável. O restante, infelizmente, é desastroso, incluindo o fraquíssimo Guerreiros de Fogo (1985), primeira tentativa de levar a guerreira Red Sonja ao cinema.
Após a bagaceira de 1985 — estrelada por Brigitte Nielsen e Arnold Schwarzenegger em um papel de Conan genérico —, um novo filme da ruiva parecia ser algo improvável de acontecer. Finalmente, em 2008, Robert Rodriguez e sua produtora, a Troublemaker, chegaram a trabalhar em uma versão que teria ninguém menos que Rose McGowan (uau) no papel-título. Até pôsteres promocionais foram divulgados.


Infelizmente em 2009 o projeto acabou cancelado. Red Sonja voltaria ao radar em 2010, quando a Nu Image anunciou que traria a guerreira de volta as telas, desta vez sob a direção de Simon West (Con Air). O produtor Avi Lerner chegou a declarar que gostaria de ver Amber Heard (uau) encarnando Sonja. Infelizmente, o projeto também não saiu do lugar.

Em 2018, Bryan Singer chegou a ser anunciado como diretor do filme. No entanto, em 2019, múltiplas acusações de assédio sexual contra ele vieram à tona. Avi Lerner até tentou defendê-lo, mas colocar um cineasta acusado de crimes sexuais no comando de um filme sobre uma personagem cuja origem envolve estupro soava, no mínimo, uma péssima ideia. Com a pressão aumentando, a Millennium Films acabou afastando Singer do projeto. Poucos meses depois, uma nova direção foi anunciada: Joey Soloway assumiu a tarefa de escrever, dirigir e produzir o longa, reacendendo as esperanças para a adaptação.

Em 2021, Tasha Huo foi contratada para escrever o roteiro em parceria com Soloway. No ano seguinte, Hannah John-Kamen (uau) chegou a ser escolhida para o papel principal, mas acabou deixando a produção pouco tempo depois. Logo em seguida, o próprio Soloway também se afastou do projeto, sendo substituído por M. J. Bassett — o que não trouxe boas expectativas para quem se lembra da adaptação de Solomon Kane, outro personagem de Howard, levada ao cinema em uma versão excessivamente crentelha sob sua direção. Infelizmente, parecia que, dessa vez, o filme finalmente iria para frente: em 2022, Matilda Lutz foi anunciada como a nova intérprete de Red Sonja.

Em 2025, o filme enfim chegou aos cinemas, onde passou rapidamente para causar o minimo de vergonha possível em que se aventurou a conferir isso na telona. Pouco depois, ganhou lançamento em vídeo sob demanda. O trailer já era um presságio do desastre: pavoroso. Red Sonja confirmou a velha máxima de que, de onde menos se espera, é que não sai nada mesmo.

O filme mais parece aqueles episódios de Hércules que passavam no SBT nos anos 90, com visual pobre e lutas coreografadas de forma apática e sem qualquer imaginação. Os figurinos lembram produções bíblicas da Record, e falta totalmente a crueza e a visceralidade que se espera de uma adaptação da Era Hiboriana. Nem vale a pena reclamar dos efeitos especiais pífios. É evidente que se trata de uma produção de baixo orçamento, mas verba curta não pode ser desculpa: criatividade resolve — e justamente isso é o que a direção preguiçosa não demonstra ter.

O roteiro se inspira principalmente nas HQs da Dynamite Comics, o que traz algumas alterações para a conturbada origem da personagem. O resultado é uma Red Sonja que mais parece uma versão bárbara sem poderes da Mulher-Maravilha. Matilda Lutz até empunha a espada com firmeza, mas a interpretação da personagem carece da imponência arquetípica e da ferocidade sanguinária que Howard imprimia em suas criações. Para se ter uma ideia, a Xena era muito mais durona do que essa versão domesticada da guerreira ruiva.

O vilão vivido por Robert Sheehan é um homem da ciência que despreza a superstição. A premissa poderia render algo interessante, mas logo escorrega em inconsistências e numa enxurrada de clichês, culminando em um desfecho vergonhoso — e, pior, totalmente previsível, digno da mesma diretora responsável pela versão evangelizadora de Solomon Kane. Já a Annisia de Wallis Day surge como uma rival promissora para Sonja, mas é desperdiçada em um arco péssimo, no qual fica atormentada pelas vozes de suas vítimas. Pior: depois de derrotar a heroína duas vezes, a personagem sequer tem direito a um duelo decisivo, perdida em um final anticlimático.

O filme ainda sofre com uma certa “marvelização” que contamina muitas produções de aventura recentes, recheadas de piadinhas tolas e sem inspiração. Infelizmente, a Hollywood atual parece incapaz de resgatar o clima de aventura épica e a opulência que marcou obras como Conan, o Bárbaro de John Milius, Excalibur de John Boorman ou mesmo a trilogia O Senhor dos Anéis. Hoje, tudo parece os filmes ruins do Thor.

Red Sonja nem chega a entrar naquela categoria de filmes “tão ruins que acabam ficando bons”. Duvido que funcione até mesmo se visto bêbado com os amigos. Se a ideia for assistir a uma aventura ok com uma protagonista feminina sob a batuta da mesma M. J. Bassett, melhor dar uma conferida em Rogue (2020), estrelado por Megan Fox (uau)
Cotação:


Cinema, música, tokusatsu e assuntos aleatórios, não necessariamente nessa ordem