Se você acompanha música pop, já deve ter percebido como os fãs estão cada vez mais ansiosos. Basta um artista passar alguns meses sem lançar nada que já começa o surto coletivo:
— “Cadê o comeback?”
— “Sumiu do mapa!”
— “Carreira em declinio”
Essa expectativa constante cria um ciclo de cobrança que, no fim das contas, não faz bem nem para o artista, nem para a qualidade da música.
Estava pensando nisso esses dias por conta da Sunmi. Acredito que foi no mês passado, mas calhou que em um curto espaço de tempo, no TikTok, no YouTube e no Twitter, me deparei com diferentes pessoas se perguntando por onde andava a Sunmi. “Nossa a Sunmi era uma das maiores solistas de KPOP, mas sumiu de repente”; “a Sunmi hitava horrores, mas agora ninguém liga mais pra ela”… Isso porque a Sunmi lançou em 2021 o EP 1/6 e, de lá para cá, lançou apenas alguns singles espaçados e com períodos curtos de divulgação. Mas, eis que nessa semana começaram a ser divulgados os primeiros teasers e poster do proximo comeback da cantora. Um full albúm!
O problema é que muita gente esquece que arte leva tempo. Composição, produção, gravação, elaboração de conceito, construção de visual, ensaios…
Não é apertar um botão e sair música pronta. E essa pressão não acontece só no K-pop. No pop ocidental, temos vários exemplos de artistas que levaram anos entre um lançamento e outro e foram cobrados por isso. Adele ficou 6 anos entre os álbuns 25 e 30. Beyoncé levou 6 anos entre Lemonade e Renaissance. Lorde lançou Virgin nesse ano, mas estava desde 2021 sem lançar nada, apoós Solar Power. E veja só, a pausa não diminuiu a importância de nenhum desses artistas.
A ansiêdade dos fãs, no entanto, é um reflexo da industria musical. Na lógica atual, em meio a velocidade em que tendências são criadas nas redes sociais e influencers surgem e se desgastam em um estalar de dedos, existe o medo de que, se o artista não lançar algo a todo o momento, será esquecido. Os fãs exigem comebacks em curto espaço de tempo, as gravadoras temem perder o hype e o artista fica preso nesse ciclo. O resultado? Álbuns genéricos, com 12 faixas que parecem uma playlist aleatória. Discos irregulares, com 2 ou 3 músicas boas e o resto claramente enfiado só pra “cumprir tabela”. O que deveria ser uma obra coesa, pensada, vira um fast-food musical: rápido, descartável e esquecido na semana seguinte.
Esse esquema mata a possibilidade de criar algo com propósito. Nesse cenário, a qualidade é a primeira a sofrer. Não dá pra esperar algo realmente de qualidade se o processo criativo vira uma linha de montagem.