Crítica – Pretty Guardian Sailor Moon (2003)
Título: | Pretty Guardian Sailor Moon |
Título Original: | Bishôjo Senshi Sailor Moon |
Showrunner: | Toei company |
Direção: | Ryuta Tasaki, Kenzô Maihara, Masataka Takamaru, Nobuhiro Suzumura |
Roteiro: | Yasuko Kobayashi, Naoko Takeuchi |
Elenco: | Miyû Sawai, Jun Masuo,Rika Izumi, Aya Sugimoto, Keiko Kitagawa, Joji Shibue, Keiko Han, Ayaka Komatsu, Myû Azama |
País: | Japão |
Ano: | 2003-2004 |
Pretty Guardian Sailor Moon não se prende rigidamente ao enredo original — e isso é muito bom
Em 2003, a Toei Company lançou Pretty Guardian Sailor Moon, uma série de tokusatsu baseada no famoso mangá Sailor Moon, de Naoko Takeuchi. Acabei de assistir a essa adaptação, e considero a produção um excelente exemplo de como adaptar mangá para um formato live-action, mantendo-se fiel ao espírito original, passando longe dos desastres que foram adaptações ocidentais, como Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo e Dragonball Evolution. Vale dizer que até hoje assisti apenas à primeira fase do anime exibida pela Rede Manchete; portanto, se houver referências a fases posteriores, eu não as percebi e comentarei apenas sobre a adaptação em relação a essa fase inicial.
O enredo segue basicamente a história original. No Reino das Trevas, a Rainha Beryl e seus quatro generais enviam demônios para roubar a energia dos humanos, com o objetivo de dominar o mundo. Aos poucos, as Sailors surgem, vestindo seus uniformes de marinheiras e ganhando poderes especiais para frustrar os planos dos vilões. Com o desenrolar da trama, as diferenças em relação ao mangá e ao anime se tornam mais evidentes, e fica claro que os roteiristas conseguiram adaptar com sucesso a obra para a linguagem tokusatsu. Vale lembrar que a própria estrutura da obra original já tinha pontos em comum com as produções tokusatsu da época. Diferente de animes como Dragon Ball, Sailor Moon também usava um formato episódico com o “monstro da semana” e um arco central que unia os episódios. A adaptação para o tokusatsu utiliza uma linguagem que remete ao estilo dos live-actions dos anos 2000, com uma pegada de novela de ação, à la Kamen Rider Agito e afins.
O tokusatsu deixa um pouco de lado o tom cômico do anime para apostar mais no drama e no romance, indo mais fundo no conceito de vidas passadas das heroínas e vilões, que influenciam suas identidades atuais. Minako Aino, a Sailor Venus, é uma cantora pop famosa que encara sua missão de vida passada com seriedade, muitas vezes em detrimento de sua vida presente. Essa postura a coloca em conflito com Rei Hino, a Sailor Mars, que aqui desenvolve uma relação mais amigável com Usagi Tsukino, a Sailor Moon. Há também um enfoque maior no relacionamento entre Usagi e Mamoru Chiba, o Tuxedo Kamen, com o surgimento de rivais amorosos e até a adição de uma nova antagonista, Mio Kuroki, que se finge de amiga e trama contra Usagi.
Miyu Sawai se destaca ao interpretar a personalidade divertida e desajeitada de Usagi Tsukino, além de dar profundidade à personagem quando o lado mais sério da Princesa Serenity surge. Chisaki Hama é adorável como Ami Mizuno e traz uma presença marcante e firme como Dark Mercury, em um arco que poderia ter sido ainda mais explorado. Keiko Kitagawa brilha como Rei Hino/Sailor Mars, capturando a atenção nos momentos de confronto com Ayaka Komatsu, que, por sua vez, entrega cenas mais dramáticas devido à adição de uma doença à sua personagem, Minako Aino/Sailor Venus. Myuu Azama completa o grupo com sua atuação convincente como a corajosa Makoto Kino/Sailor Jupiter.
As cenas de luta não são espetaculares, com as heroínas fazendo piruetas que lembram as acrobacias de Daiane dos Santos ao enfrentar os vilões, mas as coreografias de exibição dos poderes são bacaninhas. É curioso ver Luna e Artemis representados por gatos de pelúcia, garantindo que nenhum animal foi ferido nas gravações. Embora Luna ganhe uma forma humana, isso não acrescenta muito à trama, e fiquei me perguntando por que Artemis não recebeu o mesmo tratamento. Os quatro generais têm personalidades distintas, mas seus desfechos poderiam ter sido melhor desenvolvidos. Há até uma tentativa de algo entre Mercury e Nephrite que acaba não se concretizando, e o homoerotismo presente na série original praticamente desaparece na adaptação para tokusatsu. Aya Sugimoto, como Rainha Beryl, tem poucas oportunidades para explorar sua personagem, mas o generoso decote de seu figurino certamente não passa despercebido.
Focando mais nos personagens, Pretty Guardian Sailor Moon não se prende rigidamente ao enredo original — e isso é muito bom. É uma ótima experiência ver personagens familiares serem lançados em novas situações ou em contextos similares, mas com desfechos diferentes. Essa decisão confere a Pretty Guardian Sailor Moon uma personalidade própria dentro da franquia, fazendo dela um produto distinto, ainda que fiel ao espírito e à essência da história original.
E prepare-se: ao final dos 49 episódios da série, será difícil resistir à tentação de sair cantarolando C’est La Vie, o hit de Minako.
Cotação:
Cinema, música, tokusatsu e assuntos aleatórios, não necessariamente nessa ordem