Sobre a ausação de plágio de Yseult Contra MV de K-Pop
Em suas redes sociais, a artista francesa Yseult veio a público acusar os envolvidos na criação do music vídeo de DAMDADI, parceria entre o produtor sul-coreano R.Tee e a líder do I-DLE, Soyeon, de terem plagiado seu vídeo, Bitch You Could Never.
A temática é a mesma e até os enquadramentos de algumas cenas são muito semelhantes. Aliás, antes dessa polêmica, quando assisti a esse vídeo, lembrei imediatamento do de Yseult, que está até na nossa listinha anual de Melhores MVs. Pra mim, é semelhança demais. Mas, é plágio? Aí, já não sou capaz de opinar, pois não sou advogada nem entendo de leis de propriedade intelectual. Vou deixar isso para o juiz que julgar o caso, já que a cantora francesa afirmou que irá processar os responsáveis.
Inspiração?
Em resposta às alegações, a RTST Label, empresa responsável por administrar a carreira de R.Tee, divulgou um pronunciamento oficial assinado pelo diretor do videoclipe, Hong Min Ho. No comunicado, o diretor confessou ter se “inspirado” no trabalho de Yseult e se desculpou pelas semelhanças de algumas cenas e do conceito geral.
Apesar das desculpas do diretor, o vídeo continua online. No texto, ele admite que há cenas que remetem diretamente ao vídeo Yseult, mas utiliza a palavra “inspiração”, que é uma estratégia corporativa para desclassificar a acusação de plágio, que é um crime legalmente definido, transformando-a em um mal-entendido.
A resposta de Yseult foi incisiva. Ela agradeceu o pedido de desculpas, mas refutou veementemente a desqualificação de seu argumento, insistindo que o caso não era de “inspiração, e sim de plágio”. Destacando como a indústria da música constantemente se beneficia da criatividade de artistas negras, mas não costuma investir nas mesmas com a mesma frequencia.
Insdústria do extrativismo cultural
A sonoridade do KPOP é construído em cima da música negra, especialmente o rap e o R&B, bem como sonoridades indianas, árabes e latinas. Isso é fato. Não acho que isso, por si só, seja um problema e gosto de muitos artistas de KPOP (incluíndo I-dle), mas me incomoda como a insdustria, e muitos fãs também, agem de forma desdenhosa quando algo assim ocorre ou quando álguém é acusado de racismo ou apropriação cultural. Comprova os aspectos predatórios e extrativistas da indústria. Recentemente, comentei sobre a live racista do Kiss Of Life, em que o grupo se “fantasiou” de rappers e agiram de forma estereotipada para caracterizar pessoas negras e latinas, e também sobre o integrante Tarzaan, do grupo AllDay Project, que vive de mimetizar rappers negros, só para citar alguns casos.
O caso de Yseult não é diferente. Em uma rápida olhada nas respostas a sua postagem você vai encontrar, além de racismo, gordofobia e números do spotify, comentários tentanto enquadrar a artista no estereotipo de “angry black woman”, como se ela não tivesse motivos para estar furiosa, outros acusando-a de não se importar realmente com o plágio e está apenas querendo se promover e ainda uns que demandam desculpas a Soyeon, como se marcar em um post no Instagram a cantora que que está no feat e é personagem principal do MV fosse absurdo. Inclusive não lembro dos fãs do I-dle serem tão cautelosos em apontar a culpa, quando a cantora albanesa Dhurata Dora foi acusadar de plagiar o MV de Tomboy em seu vídeo HA HA (não estou rindo, é o nome da música).

O interessante, mas nada surpreendente, é que a maior parte desses posts agressivos vem de fãs de Soyeon e do I-dle. Um fandom que costuma descrever a idol como uma mulher forte, que sempre protegeu sua independência criativa dentro da insdústria, agora ataca uma mulher por se fazer ouvir e ainda a acusa de usar a “carta da mulher negra”. O que só mostra como fã de música pop ama utilizar causas sociais em favor de seus artistas preferidos, mas não se importa realmente.
Talvez uma opinião impopular, mas acho sim bem merda que nem R.Tee nem Soyeon tenham feito qualquer tipo de declaração sobre esse caso, ainda mais com toda a toxidade que Yseult vem recebendo. Sim, eu sei que o diretor assumiu toda a culpa para si, mas ainda assim uma alguma declaração é necessária, ao menos para reconhecer o problema, reinterar a não-participação no processo críativo do vídeo e mandar os fãs assentar os fachinhos raivosos.
Isso é outra coisa que me irrita no KPOP. Esse entendimento de que as empresas “decidem tudo” vitimiza os artistas obviamente, sabemos que idols sofrem com dietas malucas, falta de liberdade criativa e até assédio. Mas em caso de escandalos, isso vira um escudo. A empresa solta um pronunciamento meia-boca e o artista segue fingindo que nada aconteceu.