Faz tempo que não apareço por aqui com essa seção de crushs, não é mesmo? Hoje a gente vai falar de Peter Fonda, que faleceu bem recentemente, em 16 de agosto desse ano, de câncer de pulmão, aos 79 anos.
Filho do lendário Henry Fonda, irmão mais novo de Jane Fonda e pai de Bridget Fonda, Peter se tornou ícone da contracultura quando co-roteirizou, produziu e estrelou Easy Rider, em 1969.
Peter Fonda nasceu em Nova York, em 23 de fevereiro de 1940. Teve uma infância não muito feliz e costumava falar abertamente sobre o assunto. Tanto Jane quanto Peter descreviam o pai como rígido e distante. Jane, aliás, falou algumas vezes que Henry era muito crítico em relações aos comportamentos dos filhos e até sua aparência (ela já sofreu de bulímica e diz que o fato do pai constantemente apontar que ela estava \”ficando gorda\” durante a juventude, tem muito a ver com isso).
Os irmãos foram representantes de uma geração de rebeldes da década de 1960. \”Hanoi Jane\”, feminista e politizada, posou com soldados do Vietnã do Norte. Enquanto Peter ajudava a abalar a cultura estabelecida e abrir caminho para uma série de diretores e roteiristas que não rezavam pela cartilha da Hollywood clássica.
Henry Fonda não aprovava nada disso. Peter certa vez comparou seu pai ao coronel autoritário interpretado por ele em Fort Apache, de John Ford: \”Quando as pessoas me perguntam como foi crescer como filho de Henry Fonda, pergunto se elas viram Fort Apache\”, disse ele. Entretanto, Peter afirmava que eles ficaram mais próximos alguns anos antes de Henry falecer, em 1982.
Voltando a infância, quando tinha 10 anos de idade, a mãe, Frances Seymour, após retornar de um período internada em um hospital psiquiátrico, cometeu suicídio em casa. Henry teria tentado ocultar a tragédia dos filhos, contando que a esposa falecera devido a um ataque cárdico. As assinaturas de jornais e revistas foram canceladas na mansão dos Fonda e os professores e estudantes da escola que os irmãos frequentavam foram instruídos a não discutirem o assunto. No entanto, meses mais tarde, Jane, na época com 12 anos, descobriu a verdade ao folhear uma revista, durante uma aula de artes.
Um ano depois, Peter, acidentalmente, atirou no próprio abdômen e quase morreu. Anos mais tarde, durante uma conversa regada à LSD, com os beatles John Lennon e George Harrison, teria comentado sobre o acidente, dizendo que sabia \”o que é estar morto\”. O papo inspirou a canção dos Beatles \”She Said She Said\”.
Peter frequentou a Universidade de Nebraska em Omaha, se juntando ao Omaha Community Playhouse. A carreira no show business começou na Broadway, com o papel de soldado em Blood, Sweat e Stanley Poole. Sua estreia no cinema veio com Artimanhas do amor, comedia romântica de 1963, estrelada por Sandra Dee.
Em 1964 esteve em Lilith, drama de Robert Rossen, protagonizado por Jean Seberg e Warren Beatty, e em The Young Lovers, única incursão na direção do famoso produtor Samuel Goldwyn Jr.
Em 1966 protagonizou The Wild Angels, de Roger Corman, que também trazia Nancy Sinatra e Bruce Dern no elenco. O filme sobre um motociclista fora da lei acabou sendo uma das inspirações por trás de Easy Rider. O próximo passo foi em 1967, com The Trip, também dirigido por Corman, com roteiro de Jack Nicholson e que tinha ainda Dennis Hopper no elenco.
Em sua autobiografia publicada em 1998, Don\’t Tell Dad: A Memoir, Fonda disse que teve a ideia de Easy Rider enquanto olhava para um pôster para The Wild Angels.
\”Eu entendi imediatamente que tipo de filme de motocicleta, sexo e drogas eu deveria fazer em seguida\”, escreveu Fonda. “Não seriam cerca de Hell\’s Angels a caminho de um funeral. Seria sobre Duke [John Wayne] e Jeffrey Hunter à procura de Natalie Wood [referência a Rastros de Ódio]. A América seria nossa Natalie Wood\”.
Enquanto Fonda e Hopper começavam a planejar Easy Rider, o primeiro foi à Europa para atuar junto com Jane Fonda em Metzengerstein, um dos segmentos da antologia Histórias Extraordinárias, dirigido por Roger Vadim, que na época era casado com Jane (os outros dois segmentos são dirigidos por Louis Malle e Federico Fellini). Histórias Extraordinárias foi lançado em 1968. No set, Peter conheceu o escritor Terry Southern, de quem logo ficou amigo. Fonda, Southern e Hopper escreveram juntos o roteiro de Easy Rider; Fonda o produziu e Hopper dirigiu.
\”Sem Destino\” explorou as tensões sociais da época, como o movimento hippie, o uso de drogas e a vida em comunidade, além do choque com as camadas mais reacionárias e conservadoras do EUA. Fonda e Hopper, ao som de Born to be Wild, do Steppenwolf, encarnaram uma juventude desencantada, porém livre.
O roteiro do filme foi indicado ao Oscar. Ah, e Jack Nicholson também ganhou uma indicação na categoria de ator coadjuvante. Easy Rider também ganhou o prêmio de “melhor primeiro trabalho” no Festival de Cannes, em maio de 1969, em muitos outros prêmios, além de ter sido um sucesso: custou US$ 400 mil e rendeu mais de US$ 60 milhoes. Em 1998, Easy rider foi incluído no registro de filmes da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos por seu significativo \”valor cultural, histórico e estético”.
Com Easy Rider, muita gente apostou que Peter se tornaria um astro tão grande quanto seu pai (havia quem dissesse, por exemplo, que ele era uma combinação entre Clint Eastwood e James Dean). Não foi o que aconteceu. Nenhum dos filmes em que trabalhou posteriormente recebeu uma atenção se quer parecida com a recepção de Easy Rider. Não que ele parecesse se importar, Peter continuou fazendo filmes regularmente, em cerca de 50 anos de carreira, mas sempre foi low profile.
Durante a década de 70, Peter Fonda dirigiu 3 filmes: The Hired Hand (1971), Idaho Transfer (1973, esse é o único em que ele não atua também) e Wanda Nevada (1979).
Em 1998, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Drama e foi indicado ao Oscar por O Ouro de Ulisses. Perdeu para, veja só, Jack Nicholson, que concorria por Melhor é Impossível (Nicholson também ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator, mas na categoria comédia).
Peter Fonda foi casado três vezes, com Susan Jane Brewer (de 1961 a 1974, com quem teve os filhos Bridget e Justin), Portia Rebecca Crockett (de 1975 a 2011, com quem teve o terceiro filho, Thomas ) e Margaret DeVogelaere (casou-se em 2011).
Após, a morte de Peter, Jane disse em um comunicado: “Estou muito triste. Ele era meu irmãozinho de coração doce. O falador da família. Eu tive um belo tempo sozinho com ele nestes últimos dias. Ele se foi rindo\”.
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