Review – Choujinki Metalder (1987)

Metalder tem grande conceito, mas falha na execução


Metalder, o Homém Máquina


Choujinki Metalder, 1987

Criador:  Susumu Takaku
/ Toei Company










Elenco:  Seikō Senoo, Hiroko Aota, Kazuoki Takahashi,  Shinji Tōdō










Sinopse:

Durante a 2ª Guerra Mundial, o especialista em robótica, Doutor Koga, criou o androide Metalder como uma arma secreta para o exército japonês, destinada a ser utilizada na Guerra do Pacífico. Para isso, ele baseou-se em seu falecido filho, Tatsuo Koga, que era segundo-tenente da Marinha Imperial. No entanto, o projeto foi abandonado. Em 1987, ao descobrir sobre a existência do Império Neroz, Koga reativa Metalder.

Cotação: 



Choujinki Metalder foi a sexta e mais curta série da, hoje chamada, franquia Metal Hero. Fracassou no Japão, tendo apenas 39 episódios. No Brasil, a história não foi muito diferente. A série teve poucas exibições pela TV Bandeirantes no início dos anos 90 e pouquíssima divulgação, mas pelo menos foi transmitida na íntegra. Após uma matéria na revista Herói na segunda metade dos anos 90, Metalder foi redescoberta pelos fãs de tokusatsu e passou a ser considerada uma das melhores e mais dramáticas do gênero. Será mesmo?


Assisti a poucos episódios de Metalder durante sua exibição aqui. Se vi dois, foi muito. A Bandeirantes pegava muito mal na minha casa. A imagem era péssima e, às vezes, o som captava até o rádio da polícia. Como o Homem-Máquina não teve mais reprises após essa época, diferente das outras séries lançadas pelo canal (a Oro Filmes colocou Sharivan, Machine Man e Goggle Five na Record, onde consegui acompanhá-las), minha primeira oportunidade de ver imagens limpas do seriado foi quando suas cenas de ação e personagens foram utilizados na série VR Troopers. Foi naquela aberração produzida pela Saban Entertainment, que misturava Metalder e Spielvan (exibida na Manchete como Jaspion 2), que consegui ver com todos os detalhes o herói enfrentando seus adversários pela primeira vez. Triste, mas com muitos foi assim. Eu detestava aquela americanização, mas era o que tinha. E até dava para dar umas boas risadas.


Enfim, com a internet, tive acesso à produção original. Ainda assim, não assisti a todos os episódios de imediato, pois alguns não tiveram sua dublagem recuperada. Foi então que a saudosa Tokuflix disponibilizou todos os episódios em versão legendada, e finalmente assisti Metalder completo. O Herói parece uma versão repaginada de Kikaider e Kikaider 01 de Shotaro Ishinomori, e realmente a série ambicionava uma profundidade maior em seus temas e personagens, sobretudo vilões. No entanto, devido à baixa audiência, ficou apenas na intenção.


Em 1945, o Dr. Koga projetou Metalder como uma arma ultrassecreta para o Exército Japonês, destinada a ser usada na Guerra do Pacífico, dando-lhe a aparência de seu falecido filho, o Segundo Subtenente Tatsuo Koga. No entanto, Metalder não chegou a ser utilizado e foi posto em estado suspenso em uma base, enquanto o doutor partiu para os Estados Unidos. Enquanto isso, Kunio Muraki, que chegou a trabalhar no projeto mas foi expulso por crimes de guerra, adotou outras identidades e se passou por homem de negócios, tornando-se um notório mercador da morte. Com sua empresa e usando a alcunha de Imperador Neroz, ele controla um imenso exército formado por lutadores, robôs e monstros criados geneticamente, que lança contra seus desafetos.


O Dr. Koga descobriu a verdade sobre a organização e retornou ao Japão para ativar Metalder. O andróide, no entanto, não consegue entender o que deve fazer, e Koga resolve se sacrificar para dar a ele um propósito. Ao ver o assassinato de seu criador, Metalder avança contra as tropas de Neroz, mas é derrotado por Arthur, um dos comandantes das tropas do império, mostrando de imediato que a série queria ser diferente.


Os 18 primeiros episódios são muito bons. Ao contrário de outros seriados, Metalder inicialmente não tinha o monstro da semana. Todo o Império Neroz é apresentado de uma única vez e ataca o herói como uma verdadeira tropa, com alguns membros assumindo o protagonismo de determinados episódios. Com suas regras de conduta e origens variadas, o Império Neroz, que se subdivide em quatro tropas, chama mais atenção que o herói e facilmente rouba a cena. Um dos destaques é o assassino profissional Top Gunder, que inicialmente aparece como antagonista, mas depois passa para o lado de Metalder.


Essas primeiras aventuras também mostram Ryusei Tsurugi (Hideki Kondo na versão brasileira) conhecendo a humanidade através de seus costumes e de sua história, chegando a fazer questionamentos filosóficos sobre a morte. Ele é guiado pela fotógrafa Maya Aoki, que inicialmente parece ser um interesse romântico, mas depois acaba na friendzone. O motoqueiro Satoru Kita entra na história mais tarde, interpretado por Kazuoki Takahashi, famoso como Change Griffon de Changeman, para tentar dar carisma a produção, já que o intérprete de Ryusei carece bastante dessa característica. Metalder é muito mais carismático quando o suit actor está em cena.


Além da escolha do protagonista, Metalder também erra na escolha do principal papel feminino. O tema pedia uma repórter estilo Lois Lane, mais investigativa. Maya, no entanto, está diante de um andróide superpoderoso e uma organização maléfica, mas só pensa em fotografar aves para o caderno dominical. Além disso, a moça tem pressão baixa e desmaia ao ver qualquer figura do Império. Para fazer o papel de repórter curioso, os roteiristas recorrem ao pai de Maya nos últimos episódios. Sem dúvida, é uma das piores personagens femininas de tokusatsu de todos os tempos. A atriz Hiroko Aota é lindíssima, mas a personagem carece de um melhor desenvolvimento.


Os guerreiros de Neroz acabam roubando a cena e são o grande diferencial da série. Top Gunder, Barlock, Benkei e outros se tornam mais interessantes que os protagonistas. Os primeiros episódios focam nos ataques a Metalder e na história de seus oponentes. Não existem aqueles planos absurdos tão comuns no gênero. Neroz age infiltrado na sociedade, alimentando intrigas e guerras, o que é apenas mencionado. Infelizmente, com a baixa audiência, o programa toma novos rumos e adota a fórmula com vilões tramando planos mais bizarros, que não funcionam bem dentro da linha que a produção se propunha a seguir, como no episódio dos vagalumes ou quando transformam um cachorro em monstro. Talvez isso desse certo em Jiban ou algum Sentai, mas em Metalder, definitivamente não encaixa.


A coisa ficou tão ruim que a partir do episódio 25, o seriado começou a ser exibido aos domingos pela manhã, enquanto os primeiros 24 iam ao ar às segundas-feiras de noite. Os episodios 25 e 26 trouxeram grandes nomes de séries anteriores para tentar dar uma força. Junichi Haruta (Goggle Black em Goggle Five, Dyna Black em Dynaman e MacGaren em Jaspion), Kenji Ohba (Gavan), Hiroshi Watari (Sharivan, Boomerman em Jaspion, Spielvan), Makoto Sumikawa (Lady Diana em Spielvan), Sumiko Tanaka (a segunda Yellow Four de Bioman) abrilhantaram esses bons episodios duplos que são alguns dos acertos dessa segunda fase junto com o episódio da menina bomba que antecipa um plot de Jiban (e que também foi mencionado em um de Spielvan sem nunca ter sido posto em pratica).


A série tenta voltar aos eixos em sua fase final, retomando a temática mais sombria e dramática de seu início, mas escorrega ao correr demais com a resolução de suas tramas. Dos principais adversários de Metalder, apenas Balzac  tem um final satisfatório, embora um pouco forçado, já que os roteiristas não investiram tanto em uma rivalidade dele com Metalder como vimos, por exemplo, entre Jaspion e Macgaren, Change Dragon e Bubba, ou Red Flash e Kaura. Arthur parecia que iria cumprir esse papel, mas é prejudicado pelo plot twist no final de sua participação. A última batalha com Neroz é insatisfatória, com o vilão que sempre se baseou na tecnologia investindo no ocultismo.


Mesmo o tão dramático desfecho do herói perde força. Há um comentário no episódio 3 sobre as características do criador, Koga, que simplesmente invalida o destino fatal de Metalder, que parece ter sido tirado do nada. Muito se fala de Metalder como um seriado muito dramático, mas a verdade é que, mesmo nesse campo, ele perde feio para os dois Lion Man, Spectreman, e até mesmo para episódios aleatórios de Jaspion, Jiraiya, Changeman, Flashman, Kamen Rider Black…


Metalder tem um grande conceito, mas, por causa do fracasso comercial, falhou na execução e ficou no meio do caminho, não agradando nem crianças (o público-alvo desse tipo de produção, sempre bom lembrar) nem adultos. Hoje, conquistou um público fiel e é lembrada com carinho por seus fãs. A tentativa de uma abordagem inovadora com temas mais profundos a tornou uma série cult.


Metalder é uma boa série com uma excelente trilha sonora composta por Seiji Yokoyama, o mesmo de Cavaleiros do Zodíaco, que depois foi bem reutilizada em Winspector, de 1990. O tema de abertura é um dos mais bonitos de todo o gênero. O visual do herói e dos vilões também é magnífico. Infelizmente, o público não comprou a ideia, os produtores se retraíram, e Metalder ficou aquém da obra-prima que poderia ter sido.

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Marc Tinoco

Cinema, música, tokusatsu e assuntos aleatórios, não necessariamente nessa ordem

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