Garota Dinamarquesa
The Danish Girl
Diretor: Tom Hooper
Elenco: Eddie Redmayne, Alicia Vinkander, Matthias Schoenaerts, Amber Heard, Ben Whishaw
EUA, 2015
Em tempos em que, para horror da família tradicional (e de umas feministas transfóbicas que tem por aí), muito se fala de transexualidade, contar a história de uma mulher trans em meados do século XX poderia gerar um filme provocador e ousado. Poderia. No entanto, infelizmente, não é o que acontece em A Garota Dinamarquesa. Baseado no romance homônimo de David Ebershoff, a cinebiografia dirigida por Tom Hooper (vencedor do Oscar por O Discurso do Rei) é preguiçosa, covarde e enfadonha.
O filme acompanha o casal de pintores Gerda (Alicia Vinkander) e Einar (Eddie Remayne). Ele já é um sucesso, ela ainda busca encontrar um caminho para consolidar sua arte. Para conseguir completar o retrato de sua amiga, a bailarina Ulla (Amber Heard), que não pode ir posar, Gerda pede ao marido que vista as roupas da moça. Apesar de, mais tarde, a personagem afirmar que sempre foi mulher, esse momento fica parecendo algo como “foi aqui que tudo começou” e, junto com as cenas em que a pintora escolhe roupas e perucas para Einar, acaba colocando Lili Elbe, nome adotado por Einar após se descobrir mulher, como uma espécie de criação de Gerda, quando, na verdade, é de se esperar que Einar fosse a verdadeira criação, que ocultava Lili.
Apesar de Alicia Vinkander ter sido indicada ao Oscar de atriz coadjuvante, na realidade, o filme gira em torno de sua Gerda e do modo como ela tenta compreender e aceitar a mudança no marido e, mais tarde, o ajuda a passar pelas cirurgias necessárias para ser uma mulher completa. Lili é apenas o aspecto que motiva as mudanças na vida de Gerda e, dessa maneira, fica mais fácil fugir das polêmicas. Como disse no inicio do texto, A Garota Dinamarquesa é um filme covarde, preocupado em não chocar, os “tratamentos” médicos contra a transexualidade ou o preconceito e violência por qual transgêneros passam são abordadas de modo superficial e leve, preferindo o sentimentalismo aos questionamentos.
Por conta desse ar medroso, o filme tem sido muito criticado. Primeiramente por colocar um homem para interpretar uma trans, mas também por omitir certos tópicos da biografia de Gerda, como a questão de que, através da maneira sensual como ela retratava Lili e outras mulheres, ela provavelmente seria lésbica ou bissexual e sua relação com Lili era de amante, não de esposa sofredora, que é tão amiga do marido, que jamais o deixa. Aliás, os quadros de Gerda eram chamados de Arte Erótica Lésbica, o que também é omitido no filme. Para completar, o filme utiliza faz uso de personagem inventado: Hans (Matthias Schoenaerts), um amigo de juventude de Einar, por quem este era apaixonado. Quando Hans aparece não é para jogar luz sobre o passado de Lili/Einar, mas para criar um inútil triangulo amorosa, já que ele se interessa por Gerda.
Outro problema do filme é a horrenda direção de Tom Hooper, com seus objetos desnecessariamente desfocados e enquadramentos tortos, sem nenhuma razão aparente. Sério, a coisa é tão grave, que nos momentos finais, ao invés de estar prestando atenção nos diálogos ou me importando com o destino dos personagens, estava me perguntando: “pra que esse ângulo torto?”. Aliás, em outra cena, Einar conversa com Ulla, que está ensaiando, enquanto ele se encontra no andar superior, cercado por rendas e plumas. A cena inteira, Amber Heard fala de dentro de um circulo de tecidos e penas desfocadas, a cena ficou tão feia que me deu agonia.
No campo das atuações, Eddie Redmayne, indicado a melhor ator, não compromete, mas recorre trejeitos para compor sua personagens, como o corpo sempre curvado, os lábios trêmulos e uma expressão levemente amedrontada. Falta-lhe intensidade nas cenas mais dramáticas. Por outro lado, Alicia Vinkander brilha ao conferir nuances a Gerda e é de longe a melhor coisa no longa.