Meu Pai
The Father
Direção: Florian Zeller
Elenco: Anthony Hopkins, Olivia Colman, Imogen Poots, Rufus Sewell, Olivia Williams, Mark Gatiss
Reino Unido, França – 2020
Dirigido por Florian Zeller e baseado em sua própria peça, Meu Pai acompanha o processo de avanço da demência em um idoso (o filme não especifica se é Alzheimer, por exemplo). Anthony (Anthony Hopkins) vive sozinho em seu apartamento; sua filha, Anne (Olivia Colman), o visita todos os dias. Quando Anthony afugenta mais uma cuidadora, Anne decide ter uma conversa séria com o pai. Ela explica que ele deve parar de hostilizar as funcionárias, pois não pode ficar sozinho. Anne conta então que se mudará em breve para Paris, para viver com o namorado, e não mais poderá vê-lo diariamente.
O mais interessante sobre Meu Pai é que o filme abre mão da narrativa convencional, focada mais no drama familiar, preferindo mergulhar na confusão mental do protagonista. Daí temos um entra e sai de personagens, como a cuidadora Laura (Imogen Poots), o marido de Anne, Paul (ora Rufus Sewell, ora Mark Gatiss), que maltrata o sogro e quer colocá-lo em um asilo, e mesmo Anne, surge com outra aparência (Olivia Williams). Sendo assim, a passagem de tempo é propositalmente confusa, na medida em que sequências são encenadas e reencenadas, com algumas mudanças nos acontecimentos ou personagens. Dessa forma, o espectador fica quase tão perdido quando o protagonista, em dúvida sobre o que são memórias, o que é o presente e o que é puramente delírio.
Ao contrário de outras adaptações de peça para o cinema, como A Voz Suprema do Blues, também um dos indicados ao Oscar, ou ainda Um Limite Entre Nós ou Marjorie Prime, a direção de Zeller, aliada a montagem de Yorgos Lamprinos, evita aquele ar de peça filmada.
No mais não posso ir embora sem destacar o grande ator que é Anthony Hopkins, mesmo que essa informação não seja novidade nenhuma. Apoiado por um elenco coadjuvante muito talentoso, Hopkins compõe um homem carismático, divertido, às vezes difícil, que não quer abrir mão de sua independência. O lado mais dramático e triste do filme, está justamente nos momentos em que essa personalidade forte cede lugar para a fragilidade e medo.