The Other Side of the Wind

Diretor: Orson Welles

Elenco: John Huston, Oja Kodar, Peter Bogdanovich, Susan Strasberg, Bob Random, Norman Foster, Lilli Palmer, Cameron Mitchell e Dennis Hopper

EUA, 2018

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O lançamento de O Outro Lado do Vento pela Netflix é o grande evento cinéfilo do ano. Em 2016, a plataforma de streaming adquiriu os direitos da última obra dirigida pelo lendário Orson Welles, filme inacabado que começou a ser produzido nos anos 70, mas passou por vários problemas, até ser engavetado. Agora, quase 50 anos depois, com montagem de Bob Murawski (de Guerra ao Terror e diversos filmes do Sam Raimi), finalmente, podemos assisti-lo.

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O projeto foi inspirado pelo suicídio do escritor Ernest Hemingway, em 1961, começando a ser produzido em 1970. Seis anos depois, após diversas interrupções, problemas de financiamento e até com pagamentos de impostos, O Outro Lado do Vento foi cancelado, deixando cerca de dez horas de filmagens não editadas. Os rolos ficaram abandonados em depósitos e sua conclusão se tornou pouco provável, especialmente após a morte de Welles, em 1985.

Vale lembrar que O Outro Lado do Vento não é o único filme póstumo de Orson Welles. Em 1992, foi lançado Don Quixote de Orson Welles, uma tentativa do cineasta espanhol Jesus Franco de montar fragmentos filmados ao longo de muitos anos em uma adaptação do romance de Miguel de Cervantes. O projeto dividiu opiniões e foi apontado como uma apropriação indevida.

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O Outro Lado do Vento apresenta uma estrutura de filme-dentro-do-filme e me surpreendeu positivamente. Welles era genial, obviamente, mas, após tantos anos e interrupções, esperava por um filme com problemas de coesão. Isso não acontece.

Na trama, Jake Hannaford (John Huston, brilhante) é um consagrado (e excêntrico) diretor, o “Ernest Hemingway do cinema”, que por muitos anos filmou na Europa para fugir do esquema hollywoodiano, mas que retorna aos Estados Unidos para realizar sua obra mais ambiciosa.

Entretanto, o cineasta que enfrenta problemas para concluir o projeto, chamado O Outro Lado do Vento, devido ao abandono repentino do protagonista, John Dale (Robert Random). Com o orçamento estourado e a pressão de executivos de Hollywood, Hannaford comemora seu aniversário recebendo amigos, atores, críticos e jornalistas; exibindo aos presentes as cenas já filmadas, que mostram um jovem (Random) seguindo uma mulher misteriosa (Oja Kodar, que assina o roteiro junto com Welles), por quem se apaixonou à primeira-vista.

Nas partes do aniversário, em preto-e-branco, Welles assume um tom quase documental. Dessa forma, temos a sensação de praticamente estar na festa, acompanhando de perto os conflitos entre o diretor e seus convidados, sua visão sobre a sociedade, o misterioso sumiço do protagonista e questionamentos sobre suas intensões e sexualidade.

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Já no filme dentro do filme, vemos algo muito diferente do estilo de Welles. As cenas concebidas por Hannaford, sem diálogos, possuem um tom enigmático e certo erotismo, que fazem referência e/ou satirizam com o cinema de diretores como Michelangelo Antonioni.

Através dessa metalinguagem, e com muito cinismo, Welles estabelece
panorama crítico da industria cinematográfica e seus tipos, o diretor egocêntrico, os bajuladores, os jornalistas que tentam \”desvendar\” a obra, etc., além de um debate sobre cinema/arte/comércio. Aliás, irônico que esse seja um filme inacabado sobre a produção de um filme inacabado.

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