The Many Saints of Newark
Direção: Alan Taylor
Elenco: Alessandro Nivola, Leslie Odom Jr., Michael Gandolfini, Michela De Rossi, Ray Liotta, Vera Farmiga, Jon Bernthal, Corey Stoll, John Magaro e Michael Imperioli
EUA, 2021
Em 1999, estreava no HBO, The Sopranos. A série, com 6 temporadas e 86 episódios, exibida até 2007, marcou a história das séries de TV e é considerada uma das melhores já produzidas (por mim, inclusive). O retrato crítico que a série pintava dos Estados Unidos, bem como a forma como empregava recursos cinematográficos em sua narrativa, influenciou e ainda influência diversas produções.
Em 2021, com produção da Warner Bros e HBO, chega ao HBO Max, a prequel de The Sopranos. The Many Saints of Newark conta com o roteiro de David Chase, criador da série, e Lawrence Konner, que foi um dos roteirista de The Sopranos e Boardwalk Empire. Já a direção ficou por conta de Alan Taylor, diretor de episódios de Game of Thrones, Thor: O Mundo Sombrio e O Exterminador do Futuro: Gênesis.
Durante a série, os personagens relembravam com nostalgia os velhos tempos, surgindo o nome de Dickie Moltisanti, uma figura lendária, praticamente um herói para os mafiosos. Passado entre o final da década de 60 e inicio da década de 70, o filme traz ótima reconstituição de época. Porém, a forma como a história de Dickie Moltisanti (Alessandro Nivola) é contada aqui, revela-se bem menos interessante do que aparentava na série. Ele próprio, apesar da boa atuação de Nivola, não é nem de longe um personagem tão rico quanto Tony Soprano. The Many Saints of Newark alterna fan service com uma história levada de forma apática durante toda a narrativa.
A trama acompanha Dickie a partir do momento em que é apresentado a nova esposa do pai (Michela De Rossi). A soma de desavenças acumuladas, o fato do pai, Hollywood Dick (Ray Liotta), agredir a esposa e de Dickie se envolver romanticamente com a madrasta, levam ao assassinato de Hollywood e ascensão de Dickie na cadeia de comando da máfia. Dickie conta com os conselhos do tio, Sally Moltisanti (novamente, Ray Liotta), enquanto disputa território com os negros, chefiados por um ex-colaborador (Leslie Odom Jr.).
Uma das grandes forças de The Sopranos é o modo como desconstrói o arquétipo do mafioso, criando personagens únicos, carismáticos, extremamente críveis e humanos. Em The Many Saints of Newark, a composição dos mafiosos, seja os italianos, seja os negros, não escapa da caricatura. Um exemplo, é que a série sempre revelou em tom crítico os preconceitos do grupo. Mas esses preconceitos, como racismo e homofobia, apareciam em diversos contextos e nuances. Aqui, nada é realmente discutido, tudo se resume aos personagens bradando frases e expressões preconceituosas.
No mais, tudo é muito previsível. Tem até a amante do protagonista se envolvendo com o rival. A direção fraca de Alan Taylor também não ajuda, não há construção da tensão, os acontecimentos vão se encadeando preguiçosamente.
O filme ainda aborda algo que a série já contemplava, de que Tony, vivido aqui por Michael Gandolfini (filho de James Gandolfini, que viveu a versão adulta do personagem na série), é produto de seu meio. Filho de um pai ausente (Jon Bernthal) e uma mãe manipuladora (Vera Farmiga), vê em seu tio Dickie, um modelo. Mesmo, nesse momento, não aprovando as relações criminosas da família, já reproduz alguns comportamentos, como trapaças na escola e acessos de raiva. O diretor, no entanto, também encontra dificuldade em equilibrar a trama de Dickie com as partes de Tony, de forma que, às vezes, parece que estamos assistindo a dois filmes diferentes.
Outro problema é a narração em off. No estilo Memórias Póstumas de Brás Cubas, Christopher Moltisanti narra os acontecimentos, mas com um texto bem pouco inspirado. O recurso não tem nenhuma serventia na narrativa, sendo mais uma maneira de ativar a nostalgia da série. Tanto que o texto gira muito mais em torno da mágoa de Christopher com Tony, um adolescente no filme, sem grande participação nos acontecimentos, do que a figura do seu próprio pai, Dickie, morto quando ele ainda era uma criança e sob a sombra mitológica do qual, ele cresce.
O elenco também é prejudicado pelo fan service, além das limitações da história, pois tentam reproduzir os trejeitos dos atores da série, principalmente John Magaro e Corey Stoll que interpretam, respectivamente, Silvio Dante (personagem originalmente vivido por Steven Van Zandt) e Junior Soprano (Dominic Chianese, na série).
The Sopranos foi uma série icônica, mas, lamentavelmente, sua prequel é mediocre. Uma versão pálida. Um episódio fraco que jamais existiu na série.