Review – Uma Escola Muito Louca (1986)

Uma Escola Muito Louca

Soul Man
Diretor: Steve Miner.
Elenco: C. Thomas Howell, Rae Dawn Chong, Arye Gross, James Earl
Jones, Leslie Nielsen, Melora Hardin, Julia Louis-Dreyfus
EUA, 1986



Lembro-me de ter visto várias vezes o anúncio desse filme para
exibição na Sessão da Tarde, ainda em seus bons tempos, mas foi um
daqueles títulos que nunca me animaram a conferir. Agora, em 2023,
vi essa bagaça reaparecer em posts irônicos de algumas contas no X-Twitter e a curiosidade finalmente me pegou.


Soul Man é sobre Mark Watson, o branquelo playboy, filho de um
importante psiquiatra, que não pode contar com a ajuda do papai para
pagar a faculdade de Harvard. Ele tem então a brilhante ideia de se inscrever como sendo negro para ganhar uma bolsa de estudos. Aceito, ele
altera a sua cor com ajuda de umas pílulas de bronzeamento para poder frequentar as aulas. Lógico que ele vai sentir o negro drama na pele,
daquele jeito bem rasteiro que se espera em uma comédia dos anos 80 roteirizada e dirigida por brancos.


O filme costuma ser bem criticado pelo black face, mas, na
realidade, é até bem-intencionado. Verdade que de boas intenções o
inferno está cheio. Soul Man tenta criticar o preconceito mais ou menos como aquele
cantor, Michel Teló fez quando pintou o rosto de preto e postou no
Instagram. Não tinha ninguém para avisar o coitado, assim
como parece que ninguém avisou os produtores desse filme. Hoje em
dia a estratégia do personagem Mark até já nem parece tão absurda. Pelo menos aqui no Brasil, onde a ficção costuma perder de longe para a realidade. Em
2020, uma mulher que prestou concurso para agente da Polícia Federal
em Brasília, foi acusada de ter fraudado as cotas
raciais mentindo sobre a cor da pele. E o que dizer do bronzeamento artificial do ACM
Neto na última eleição para Governador na Bahia?


Além de errar no que se pretende como critica ao racismo, outro grande problema do filme, talvez o maior, é que ele é uma comédia que não
consegue ser engraçada em momento algum. Temos algumas piadas com
prisão, tamanho de bilau e habilidades no basquete, todas bem
fraquinhas. Não acerta nem quando bota o protagonista para receber
em casa, ao mesmo tempo, os pais, o interesse romântico (Chong) e a fogosa caçadora de homens em grupos minoritários
(Hardin), falhando em aproveitar todo o potencial cômico envolvido
da situação. No final, claro, temos a redenção do “mocinho” que
descobre que tirou a bolsa da amada e começa a ter crises de
consciência. Como é uma comédia dos anos 80, ele vai se
arrepender, lhe passarão a mão na cabeça e ele não será punido
por seu crime. Ainda baterá em uns racistas e ficará com seu amor
no final.


Difícil crer que Howell bronzeado convenceria alguém de que é realmente negro e sua falta de talento cômico é gritante, seja no jantar com a
família da personagem de Hardin ou quando evita ser reconhecido pela
personagem de Dreyfus. Promissor na época, sua carreira acabou
degringolando e a única boa coisa que tirou daqui foi o casamento
com sua co-protagonista, Chong. O restante do elenco tem pouco a
fazer. James Earl Jones empresta alguma classe num papel que se
revela mais tarde compreensivo demais, Leslie Niesen não tem muitas
chances em seu pouco tempo de tela como o coroa racistão e Dreyfus, antes da Elaine de
Seinfeld, também não aparece muito. Melora Hardin foi, décadas
mais tarde, a Jan de The Office.


O filme recebeu muitas criticas e foi alvo de protestos de
ativistas, mas se pagou nas bilheterias e recebeu até uma
recomendação do presidente dos EUA na época, o que não quer dizer
muita coisa porque ele era Ronald Reagan, risos. A melhor comédia do
diretor Steve Miner (de Sexta- Feira 13 partes 2 e 3 e Halloween H20)
seria Pânico no Lago de 1999.

Uma Escola Muito Louca (sério?) está disponível no Prime Video e
Netmovies.

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