Rina Sawayama: Música, Estética e Política

A primeira música que escutei da Rina Sawayama foi STFU! e logo de cara senti que se tratava de uma artista com personalidade e estilo únicos. Dessa forma, passei a acompanhar desde de então e, com o lançamento de seu primeiro álbum, Sawayama, essa primeira impressão se confirmou.

O som de Rina é inusitada misturas de influências, passeando com muita naturalidade pelo pop, r&b, J Pop e nü metal. Suas letras são bastante pessoais ou tratam de questões psicológicas ou sociais. A cantora se define como pansexual, convidou a Pabllo Vittar para cantar o remix de Comme Des Garçons, e costuma ironizar estereótipos de gênero.

Sobre o álbum Rina Sawayama diz que ele nasceu de uma “busca por um senso de identidade e pertencimento”

Ciências Sociais e música

Rina Sawayama nasceu em 16 de agosto de 1990 em Niigata, Japão, porém vive desde os 05 anos em Londres, Inglaterra. Ela possui um visto de licença indefinida para permanecer no Reino Unido. Aliás, recentemente, a cantora fez um desabafo em seu instagram, por ter tido suas pretensões de concorrer aos principais prêmios da música britânica, pois é considerada estrangeira, mesmo tendo vivido no país por 25 anos. Ou seja, não importa quanto tempo ela viva na Inglaterra, será sempre uma imigrante. Compreensível a frustação da artista.

\"Sawayama\"

Rina estudou política, psicologia e sociologia na Universidade de Cambridge, ao mesmo tempo que trabalhava como modelo e dava seus primeiros passos na música. Durante seu tempo na universidade, ela fazia parte de um grupo de hip hop chamado Lazy Lion. Ela se formou na universidade em ciências políticas e 2020, a própria contou que estava fazendo um curso online na Universidade de Oxford.

Carreira solo

Rina Sawayama iniciou sua carreira solo em 2013, com o single Sleeping in Waking. Em junho de 2015, foi a vez da faixa Tunnel Vision. Em 2016, ela lançou o single Where U Are e começou a ser notada no cenário musical britânico. Mas, o primeiro contrato com uma gravadora só veio em 2019, com a Dirty Hit.

Agora, vamos falar um pouco dos vídeos e dos singles de Rina Sawayama:

Sleeping in Waking (2013)

Direção: Jack Greeley-Ward

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Em Sleeping in Walking, ela fala sobre viver sem realmente estar presente. O vídeo é simples, mas já demonstra sua preocupação estética. O p&b e o usa da iluminação são muito efetivos

Tunnel Vision (2015)

Direção: Arvida Byström

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O modo como a tecnologia pode afetar as pessoas é tema recorrente nas músicas de Rina. Em Tunnel Vision, ela fala sobre acompanhar a vida de outras pessoas pelas redes sociais, em uma busca interminável por amor, paz ou por aplacar a solidão (Então eu espalho meu amor por meio de curtidas/ Eu nem saí de casa na semana passada/ Mas eu sei o que você fez na noite passada/ Meus dedos ficam dormentes enquanto busco uma paz de espírito). O vídeo demonstra a solidão, colocando apenas a cantora em cena (e o celular). Além disso, a cor azul é predominante. Azul é uma cor muita associada a tecnologia (repare como muitos filmes de ficção cientifica utilizam essa cor em suas paletas) e também a tristeza, em países sendo inclusive considerada uma cor de luto.

Where U Are (2016)

Direção: Rina Sawayama e Ali Kurr

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Tecnologia também é tema em Where U Are. Se você passar os olhos pela letra, superficialmente, pode achar que é uma música sobre o término de um relacionamento (Eu sai da sua mente quando eu fui embora?), mas um olhar mais cuidadoso mostra que a canção fala sobre projetar personalidade e atitudes em alguém que você não conhece realmente (Só te vejo hoje em dia em minhas projeções (…)/ E eu estou me segurando/ Nesta conexão obscura/ E eu estou olhando para o você aparente, mas não é). O vídeo mostra a cantora no quarto, entre o celular e o notebook, enquanto, na sala, uma versão mais glamorosa de si mesma, toca guitarra.

Cyber Stockholm Syndrome (2017)

Direção: Anoushka Seigler

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Mais uma vez a tecnologia é o tema principal da música, que fala sobre a projetar uma vida divertida online, enquanto, na verdade, sente-se só. Essa relação, a música define como uma Síndrome de Estocolmo digital. Como vocês bem devem saber, a Síndrome de Estocolmo ocorre quando uma vítima tenta criar uma identificação ou conquistar a simpatia de seu algoz, que no caso da música, acredito que seja a própria tecnologia (Os limites de ficção/fato colidem/ Encontre-me na minha palma tão brilhante/ Síndrome de Estocolmo cibernética/ Vim aqui sozinha/Festa no meu telefone/ Vim aqui sozinha/ Mas comecei a me sentir solitária). O vídeo é bastante colorido, com uma vibe meio anos 90 (alguns enquadramentos e figurinos até me lembraram de No Scrubs, do TLC)

Ordinary Superstar (2018)

Direção: Can Evgin

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A letra de Ordinary Superstar fala de como pessoas famosas são, na verdade, pessoas como qualquer outra. O vídeo é bem luxuoso e, nas palavras da própria Rina, inspirado pela cena club de Tóquio nos anos 80. A direção artística é de Nicola Formichetti, que já colaboroucom Lady GaGa em Bad Romance, Telephone e Born This Way.

Cherry (2018)

Direção: Isaac Lock

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Cherry fala sobre encontrar casualmente um/uma desconhecido (a) e se encantar, questionando sua própria sexualidade (Eu conduzo minha vida/ dentro de uma mentira/ Segurando sentimentos/ Que não estou acostumada a sentir). O vídeo questiona as características construídas socialmente e atribuídas como se fossem inerentes ao gênero masculino e feminino, colocando bailarinos para dançar com movimentos suaves e fluídos, algo comumente associado ao feminino. A coreografa responsável, Joelle Fontaine, diz que fez questão de escalar apenas bailarinos queer.

STFU! (2019)

Direção: Ali Kurr e Rina Sawayama

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Com uma inesperada influencia de nü-metal, STFU! (Shut the fuck up) é o primeiro single do álbum Sawayama. A música fala basicamente de raiva e de algo que muitas mulheres já experimentaram: não ser ouvida, enquanto homens criam uma fantasia ao seu redor e esperam que ela a torne real (Como é que você não me respeita?/ Esperando que fantasias sejam minha realidade). O vídeo ilustra bem a letra, colocando Rina em um encontro com um homem (branco) que não para de falar e tudo que ele diz mostra o quanto ele fetichiza a cultura japonesa, ao mesmo tempo que é ignorante sobre essa mesma cultura.

Comme Des Garçons (Like the Boys) (2020)

Direção: Eddie Whelan

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Comme Des Garçons (Like the Boys) aborda como a sociedade enxerga arrogância e egocentrismo como \”ser confiante\” e isso normalmente é associado a se comportar como um homem. Rina conta que a letra surgiu de uma conversa sobre o politico estadunidense Beto O\’Rourke. O vídeo é bem humorado, com muito chroma key e roupas masculinas anos 90.

XS (2020)

Direção: Ali Kurr

\"XS\"

Em XS (excess), Rina critica a cultura de ostentação, mas faz essa crítica de forma irônica. Infelizmente, com tantas músicas flex por aí, algumas pessoas não captaram o significado, o que fica claro por algumas reações a música que aparecem em um vídeo que a cantora fez em seu canal, comentando os reacts a seu álbum. O vídeo tem Rina no Grupo Imagem em um canal de vendas, em contra partida o clipe também mostra a maneira bizarra como o produto é feito, com um excelente trabalho de maquiagem. Os dois atores que aparecem clipe são de fato apresentadores de programas de vendas.

Bad Friend (2020)

Direção: Ali Kurr

\"Bad

Bad Friend é cantada do ponto de vista de uma \”amiga ruim\”, útil em festas e em criar confusões, mas ruim em dar apoio (Eu sou tão boa em fazer loucuras/ Fazendo faíscas e tal, mas depois/ Eu sou ruim, sou ruim, sou uma amiga ruim). O vídeo, em p&b, é inspirado pelo cinema noir e traz Rina, mais uma vez auxiliada por um ótimo trabalho de maquiagem, interpretando um homem de negócio que se embebeda, até que chega seu amigo ruim. A narrativa dá outra dimensão a música, fazendo referencia a auto sabotagem, quando travamos batalhas internas contra nós mesmos.

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