Wonder
Direção: Stephen Chbosky
Elenco: Jacob Tremblay, Julia Roberts, Izabela Vidovic, Owen Wilson, Mandy Patinkin, Noah Jupe, Bryce Gheisar, Danielle Rose Russell, Millie Davis, Sônia Braga.
EUA, 2017.
Conferi ainda no ano passado o filme “Extraordinário” dirigido por Stephen Chbosky (\”As Vantagens de Ser Invisível\”). O filme baseado em livro homônimo tem emocionado quem assiste, o que se deve principalmente à atuação do protagonista Jacob Tremblay de “O Quarto de Jack”.
“Extraordinário” conta a história de Auggie Pullman (Jacob) que tem a Síndrome de Treacher Collins que faz com que ele tenha alterações faciais desde que nasceu, o principal efeito da síndrome é um desvio na formação dos ossos da face. Desde pequeno fez várias cirurgias e nunca havia ido para a escola, foi alfabetizado pela mãe em casa. Agora ele inicia seus estudos pela primeira vez numa escola, convivendo com outras crianças.
Obviamente a trama do filme é contar como Auggie vai se adaptar a nova rotina, ele que antes na maior parte do tempo preferia até usar um capacete de astronauta quando andava na rua ou mesmo em casa. Assim, o filme aborda a aproximação de Auggie com outras crianças, fazendo amigos e também enfrentando preconceito e bullying. Além disso, destaca como seus familiares se relacionam com ele, especialmente a mãe (Júlia) e a irmã Olivia (Izabela).
É um filme feito para emocionar, não há outro objetivo, tanto que há até fatos na trama que poderiam ter sido explorados e ampliados, por exemplo, reparei que as crianças que mais se aproximam de Auggie na escola de classe média alta são representantes de grupos também excluídos muitas vezes, um menino pobre bolsista e uma menina negra, no entanto o filme perde a chance de abordar um pouco essa relação, não era intenção do diretor, então não há muitas camadas na trama além do que já disse. Há também uma ou outra cena desnecessária só mesmo para chocar e emocionar o público, como a cena em que um dos principais amigos de Auggie bate com a cabeça numa pedra e fica por isso mesmo.
O grande acerto do filme é mesmo Jacob, mais uma vez mostrando talento e maturidade surpreendentes, mesmo por baixo de toda aquela maquiagem suas expressões cativam a plateia. Aliás, o elenco mirim como um todo é o melhor do filme. Mesmo o principal antagonista de Auggie, Julian (Bryce Gheisar) está uma criança comum e não uma caricatura de vilão mirim. Aliás, uma boa cena do filme é aquela em que aparece os pais de Julian, onde é possível perceber porque ele age como alguém preconceituoso e esnobe, assim evita a adultização do personagen e o discurso “tem idade para saber o que está fazendo”, ele reflete seus pais e seu meio.
Os outros personagens estão de fato apenas orbitando em volta de Auggie, como diz sua irmã Olivia. É dispensável a narração em off que ela, sua amiga Miranda e o amigo de Auggie, Jack, fazem em arcos do filme, a narração deveria ser só de Auggie. A jovem Izabela Vidovic é uma boa atriz e faz o que pode no arco que mostra como ela sofre por as atenções da mãe ficarem todas para Auggie. Ponto positivo para o diretor o fato de ela arranjar um namorado negro em um filme que nem abordava preconceito racial, enquanto não se colocar casais assim de forma natural é porque nada está mudando mesmo. Há ainda Sônia Braga fazendo a avó dela, mas só em uma cena, achei que a relação dela com a vó teria mais importância.
A parte de Miranda (Danielle Rose) é a mais estranha, pois se falava que ela era a melhor amiga de Olivia e super próxima da família Pullman, mas até metade do filme só sabíamos disso porque foi falado, Miranda mal havia aparecido e o filme termina sem um grande diálogo entre ela e Olivia. Quanto a Júlia Roberts, está lá fazendo o que é possível com sua personagem, o mais estranho é vê-la casada com Owen Wilson, esse não contribui com nenhum momento de emoção do filme e sua cara de bobo já não tem graça.
Enfim, Extraordinário vai agradar qualquer um que se emociona com histórias de superação envolvendo crianças, mérito principalmente de Jacob. O filme pode até conseguir uma indicação ao Oscar de maquiagem apesar de não ter nada de muito novo, poderá até ganhar já que o absurdo já está feito com a exclusão de “A Forma na Água” de Guillermo del Toro da última lista de pré-indicados.
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