Bohemian Rhapsody
Direção: Bryan Singer
Elenco: Rami Malek, Gwilym Lee, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Lucy Boynton, Aidan Gillen, Tom Hollander e Mike Myers
EUA, 2018
Em 2010, foi anunciado que Bohemian Rhapsody estava em desenvolvimento. Entretanto, desde então, o projeto sofreu algumas mudanças. Sacha Baron Cohen, que interpretaria Freddie Mercury, desistiu do filme por \”divergências criativas\”. Supostamente, o ator de Borat queria um filme mais adulto, enquanto o Queen preferia uma abordagem mais familiar. Conferindo o resultado final do longa, dá para perceber que o boato deve ter pelo menos algum fundo de verdade.
Bryan Singer, que foi afastado do projeto por \”problemas de saúde\” (extraoficialmente, os motivos apontados são os contantes atrasos e ausências – o diretor de fotografia Newton Thomas Sigel o substituiu), ao contar a história do Queen e Freddie Mercury, tenta recriar momentos marcantes, como o histórico show no Live Aid, focando na parte visual e nos fan-services, mas, por outro lado, constrói uma narrativa superficial.
O filme acompanha o jovem Farrokh Bulsara (Rami Malek), nome de batismo de Freddie Mercury, se reunindo a Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello), fazendo surgir o Queen. A narrativa também mostra a criação de grandes sucessos da banda, como a própria Bohemian Rhapsody, We Will Rock You e Love of My Life. Entretanto, o fio condutor é composto pelos dramas pessoais de Mercury. E é aí que o filme mais peca, optando por uma abordagem simplista, que transforma o artista no clichê do gênio incompreendido, que deixa todos embasbacados com seu talento, mas afasta os amigos, busca amor nos lugares errados, fica só e doente, mas se redime no fim.
Pontos da história que poderiam torná-la mais interessante, são tratados de forma rasa. A bissexualidade do cantor é explorada, mas o filme centra muito mais no relacionamento com a namorada, e posteriormente amiga, Mary (Lucy Boynton), do que qualquer um dos relacionamentos homossexuais. Outra questão é a relação do cantor com suas origens. Freddie nasceu na Tanzânia e era filho de indianos. No inicio do filme, ele parece ser sentir deslocado e talvez até rejeitado pela família, mas esse assunto só voltará a ser abordado quase no final do longa, em forma de redenção.
Nada parecido com Mercury e ainda prejudicado por uma caracterização muito ruim (o que são aqueles dentes bizarros?), Rami Malek se limita a imitar os trejeitos do artista, sem conseguir construir um personagem. Na visão do filme, o cantor passava 100% do tempo performando, até mesmo sozinho; em nenhum momento ele parece uma pessoa real; cada dialogo, cada olhar, tudo é muito artificial, algo que está mais ligado à falta de profundidade do roteiro do que ao trabalho do ator.
Em resumo, um filme formulaico e careta. Alguém tão ousado quanto Freddie Mercury merecia uma biografia menos convencional (como The Doors ou Não Estou lá, por exemplo). O destaque positivo? Bem, a trilha sonora é excelente.