(The Punisher)
Direção: Mark Goldblatt
Elenco: Dolph Lundgren, Louis Gossett Jr., Jeroen Krabbé, Kim Miyori, Bryan Marshall, Nancy Everhard
EUA, 1989
Algumas semanas atrás a Netflix colocou no ar a série do Justiceiro, que eu ainda não vi porque fiquei com preguiça dessas bagaças depois dos insuportáveis Luke Cage e Punho de Ferro (nem assisti Defensores ainda, veja só). Well, aproveitando o ensejo, escrevo aqui umas linhas sobre o melhor dos três filmes já realizados com o personagem, que é a versão de 1989. Sim, aquela mesma estrelada por Dolph Lundgren.
Dirigido por Mark Goldblatt (montou vários filmaços de ação, como Terminator 2), The Punisher, ao contrário das séries do serviço de streaming, evita enrolação. Começa e ficamos sabendo que Frank Castle, o Justiceiro, já age como vigilante faz uns cinco anos e já tem umas 125 mortes nas costas. Sua história de origem se resume a um curto flashback que não ocupa nem mesmo um minuto de filme. O foco aqui é o presente, que envolve um confronto entre a enfraquecida (graças ao Justiceiro) máfia ítalo-americana e a Yakuza, a máfia japonesa. Quando os japoneses envolvem crianças na guerra, Castle entra em ação, sendo obrigado a cooperar com um antigo inimigo, Gianni Franco (Krabbé, de O Fugitivo).
Ao mesmo tempo que parece se afastar da mitologia do personagem nos quadrinhos, essa versão de justiceiro é fidelíssima a, vamos lá, essência do personagem. Em nenhum momento tenta fazer de Frank Castle um herói como acontece na fraca versão estrelada por Thomas Jane. Longe de ter um aprofundamento de personagens, mas aqui temos um Castle ameaçador, quase mudo e irônico. Um anti-herói completo. Nada do bom moço encarnado por Jane ou do verborrágico vivido por Jon Bernthal na segunda temporada de Demolidor.
E o eterno Ivan Drago caiu como uma luva para o personagem. Com poucos diálogos, o filme deixa claro que temos aqui um homem perturbado, com um senso de justiça bem pessoal. E a cara de psicopata de Lundgren só corrobora. Todos sabemos das limitações do gigante sueco como ator, mas aqui souberam muito bem trabalhar com essas limitações. Nenhuma das versões posteriores conseguiu passar tão bem a aura “Travis Bickle” de Frank Castle.
The Punisher é visivelmente uma produção de baixo orçamento, mas Goldblatt mostra competência entregando um filme bem orquestradinho, sem firulas. Com boas cenas de ação e um ritmo ágil, The Punisher passa longe de ser um desastre como o sonífero Capitão América dirigido por Albert Pyun em 1990 e o Quarteto Fantástico produzido por Roger Corman em 1992. O confronto final na base dos yakuzas é certamente uma das melhores sequências de ação do cinema dos anos 80. Tem algumas bobagens como Frank meditando peladão no esgoto e a armadilha da Yakuza no restaurante, mas isso não é nada diante do Frank Castle do Thomas Jane armando para o mafioso John Travolta achar que levou chifre da esposa.
Gosto do Zona de Guerra. Lexi Alexander fez um trabalho interessante e é o mais fiel ao personagem, mas o vilão caricato me desagrada. Prefiro os daqui. Jeroen Krabbé compõe um tipo interessante enquanto a vilã Lady Tanaka impõe respeito, com direito a uma bela e mortal capanga que possibilita um confronto bacana com Lundgren. The Punisher também tem um clima mais realista, fugindo de caricaturas. Fico pensando que Goldblatt com mais dinheiro teria feito talvez um dos melhores filmes de ação daquela década.
Enfim, The Punisher é um filme de ação tipico dos anos 80, um veículo para Dolph Lundgren, que toma algumas liberdades em relação ao material original, como a maioria das adaptações, mas que funciona bem dentro de suas limitações. Entrega o que promete e a camisa com a caveira acaba não fazendo tanta falta.