crítica Jaspion

Crítica – O Fantástico Jaspion (1985-1986)

Título:O Fantástico Jaspion
Título Original:Kyoju Tokusou Juspion
Produção:Toei
Direção:Takeshi Ogasawara, Michio Konishi, Makoto Tsuji, Shohei Tôjô, Yoshiaki Kobayashi
Roteiro:Shozo Uehara, Haruya Yamazaki
Elenco:Hikaru Kurosaki, Junichi Haruta, Kiyomi Tsukada, Isao Sasaki, Misa Nirei, Kei Anan, Kiyomi Sone, Daisuke Yamashita, Noboru Nakaya, Hiroshi Watari, Atsuko Takahata, Yukie Kagawa, Miki Takahashi, Hayato Komori, Akane Kudo, Tatsuya Nakagawa,
País:Japão
Ano:1985 a 1986

40 anos depois, Jaspion está além da nostalgia

Vamos colocar desta forma: O Fantástico Jaspion não é apenas o meu super-herói favorito dentro do tokusatsu — ele é simplesmente o meu super-herói favorito. Nenhum outro marcou tanto a minha infância e adolescência. Acima de Homem-Aranha, Superman, Batman, Superpato… E no texto abaixo, tentarei explicar por que curto tanto essa série e esse herói.

Lançado em 1985 no Japão sob o título Kyoju Tokusou Juspion (Investigador de Monstros Gigantes Juspion), o seriado está completando 40 anos. Apesar de não ter sido um grande sucesso em seu país de origem — o que é uma pena, considerando o alto investimento da Toei em sua produção — Jaspion se tornou um verdadeiro fenômeno cultural no Brasil.

Quando estreou na TV Manchete em 1988, conquistou crianças e adolescentes, tornando-se uma febre. Suas lutas coreografadas, efeitos especiais inovadores para a época (especialmente para quem, como eu, estava acostumado com a reprise de Spectreman no SBT) e sua trilha sonora marcaram uma geração. O sucesso foi tão grande que logo outras produções do gênero seguiram ele e Changeman, que estreou na mesma época na emissora dos Bloch. Na esteira desse fenômeno, chegaram Flashman, Jiraiya, Jiban e muitos outros.

Jaspion faz parte da franquia Metal Heroes, que, na época, ainda nem era considerada uma franquia propriamente dita. Isso explica por que esse gênero é o mais experimental de todos, especialmente se comparado as outras franquias da Toei, Kamen Riders da era Showa e às séries Super Sentai, que seguiam um estilo mais consolidado e previsível. Inicialmente, os Metal Heroes eram heróis com armaduras metálicas enfrentando ameaças intergaláticas. Com Metalder, a temática mudou para heróis mais terrestres, e com Winspector, surgiram os superesquadrões policiais, ampliando ainda mais a diversidade do gênero, que era motivada na verdade pela busca da Toei por um novo grande sucesso no horário em que essas séries eram exibidas, já que nenhuma delas conseguiu repetir o estrondoso êxito de Gavan (1982), o primeiro Metal Hero.

Jaspion já representava uma tentativa de renovação dentro desse subgênero. Ele veio na esteira dos Policiais do Espaço—Gavan e seu sucessor, Sharivan, foram bem recebidos pelo público, mas o terceiro policial, Shaider, demonstrou sinais de desgaste da fórmula. Assim, Jaspion surgiu mantendo um visual familiar, mas trazendo inovações significativas em sua estrutura e narrativa.

Nada de policiais do espaço ou grandes organizações criminosas intergalácticas. A trama de Jaspion começa quando o sábio profeta Edin descobre uma profecia sobre o maligno Satan Goss, uma entidade demoníaca com planos de dominar o universo e criar o Império dos Monstros. Para impedi-lo, Edin envia Jaspion, um jovem órfão, em uma jornada por diferentes planetas a bordo de sua nave Daileon, que também se transforma em um gigantesco robô de batalha. Acompanhado por Anri, uma androide humanoide, e Miya, uma criatura alienígena que mais parece um Teletubbie espacial, Jaspion vive aventuras pelo espaço… pelo menos nos três primeiros episódios.

Os dois primeiros, aliás, estão entre os melhores já produzidos nos anos 80. No entanto, o custo de produção pesou — algo que já fica evidente no terceiro episódio, onde grande parte do “planeta alienígena” não passa da clássica pedreira da Toei. Assim, para conter gastos, Jaspion passa o restante da série enfrentando os monstros gigantes e asseclas de Satan Goss na Terra, como todo bom herói de tokusatsu.

Era evidente que a Toei e o roteirista Shōzō Uehara queriam se distanciar da fórmula já estabelecida dos policiais espaciais. A começar pela dupla de protagonistas: inicialmente, Jaspion era mais bem-humorado, um palhaço quando não estava em combate, enquanto Anri era resmungona e atrapalhada. Isso contrastava fortemente com a seriedade das duplas das séries anteriores. A escolha do elenco reforçava essa intenção. Hikaru (Seiki) Kurosaki, praticamente um Jim Carrey japonês, trazia uma energia mais cômica ao herói, enquanto Kiyomi Tsukada, que já havia interpretado papéis engraçados em Machine Man e Shaider, complementava essa dinâmica. No entanto, a recepção do público não foi das melhores, e ambos acabaram se tornando um pouco mais sérios, alinhando-se ao tom dos protagonistas anteriores. Talvez hoje essa abordagem fosse mais aceita, já que os heróis atuais podem ser mais descontraídos e brincalhões.

Felizmente, essa mudança não prejudicou a narrativa da série. As transições ocorreram justamente quando a lenda do Pássaro Dourado e a família Nanbara foram introduzidas, o que deu a sensação de que o herói passava por um amadurecimento natural e necessário dentro da história.

Os vilões de Jaspion eram bem diferentes das grandes organizações criminosas da trilogia dos policiais espaciais. No início, a ameaça se resumia a Satan Goss, seu filho MacGaren, soldados rasos e monstros gigantes. Com o tempo, surgiram os Quadridemos e outros mercenários espaciais, cuja principal função era proporcionar a Jaspion oportunidades para demonstrar suas habilidades de combate corpo a corpo —já que, contra os monstros gigantes, ele passava a maior parte do tempo dentro de Daileon.

Falando nele, Daileon é, até hoje, um dos robôs gigantes mais sensacionais já criados pela Toei. Afinal, que outro mecha executa golpes de luta livre? Apenas Titan Jr., de Flashman, chega perto em estilo e originalidade.

Gosto dos vilões de Jaspion porque eles funcionavam como um verdadeiro culto a Satan Goss. Nada de conspirações internas ou traições, como em outras séries—todos o respeitavam sem exceção. E convenhamos: se existe um vilão de tokusatsu que realmente causaria medo caso existisse, seria o “Darth Vader gigante”. Outra característica interessante é que Satan Goss nunca castigava seus servos, algo comum em Changeman e outras. Além disso, a relação entre ele e MacGaren é uma das mais bem construídas entre vilões de tokusatsu, com seu ápice no brilhante penúltimo episódio, Sou o Filho de Satan Goss. O design dos mercenários de Jaspion também está entre os melhores já feitos. Alguns personagens que aparecem em apenas um episódio — como Zamurai e Aigaman — têm visuais mais marcantes do que vilões fixos de outras séries.

Macgaren, interpretado pelo formidável Junichi Haruta, é o antagonista perfeito para Jaspion. Com sua armadura preta estilosa, ele assume o papel de anti-Jaspion, sendo carismático e maquiavélico, mas, claro, só não vence Jaspion porque este é imbatível demais. A rivalidade entre eles resulta em uma das melhores batalhas finais de herói e vilão, repleta de emoção e um desfecho dramático—sem dúvida, Shozo Uehara adorava essa dupla de vilões. Uma coisa bacana em Jaspion é que a série não desperdiça vilões. Até Gyoru e Purima, que eventualmente se tornam secretárias de Macgaren, têm seu próprio duelo final com o herói, o que é um grande diferencial em relação a outras vilãs da franquia, que muitas vezes morrem de forma banal quando chegam os últimos capítulos. Até a morte de Kilmaza, que não acontece em um confronto direto, faz sentido dentro da trama, já que ela foi introduzida como a mentora de um culto dedicado a Satan Goss.

Quando escrevo que Jaspion é imbatível, me refiro ao fato de que ele é o mais “lobo solitário” dos Metal Heroes. Ele não espera ajuda quando enfrenta situações envolvendo reféns ou que colocam sua própria vida em risco. Na maioria das vezes, ele precisa sair dessas situações por conta própria. Raramente conta com o auxílio de Anri ou Bumerman, e nunca hesita quando precisa encarar um desafio difícil, como enfrentar um antigo amigo, como vemos no excelente episódio O Atirador da Justiça. Se necessário, ele enfrenta um monstro gigante sozinho, como em alguns minutos de Contra-Ataque de Daileon, e até os destrói com uma espadinha, como no desfecho de Retorno Satânico, um dos maiores exemplos de roteirismo da série. Enfim, tudo isso adiciona um diferencial ao herói, dando-lhe aquela aura de “badass” que se destaca entre os Metal Heroes.

Jaspion tem, para mim, um dos roteiros mais bem estruturados do tokusatsu. Tudo se desenrola de forma fluida e coesa. Elementos como a revelação da verdadeira forma de Satan Goss não acontecem de maneira abrupta; somos gradualmente introduzidos a essa ideia, e ela surge no momento certo, com um motivo bem justificado. É difícil para mim encontrar falhas na narrativa de Jaspion. Talvez a única seja o esquecimento no churrasco do casal Rott e Sachi na Terra…

Além do roteiro, Jaspion conta com aquele estilo de cenas de ação que se tornou a marca registrada das séries de super-heróis da Toei nos anos 80. O ritmo frenético, a música empolgante, a trilha sonora repetitiva e vibrante… todo o conjunto é simplesmente perfeito.

Revi a série no DVD da Focus, na Band e mais recentemente no streaming do Mercado Livre, o Mercado Play, e para mim, ela continua funcionando muito bem. Os primeiros episódios na Terra seguem aquela fórmula de “monstro da semana” sem grandes reviravoltas, mas quando chega A Profecia, tudo começa a mudar. Esse foi o episódio que me fez me apaixonar pela série na primeira vez que acompanhei. A partir do episódio 15, o seriado poderia até seguir uma linha mais “novelinha”, como vemos hoje em dia, mas o formato da época era bem mais episódico. Enfim, Jaspion não é só uma questão de nostalgia, é realmente bom. E não sou o tipo de pessoa que se apega muito à nostalgia; tem coisas que gostei muito em determinado momento e hoje não tenho paciência para revisitar.

Como é pouco provável que haja um revival de Jaspion no Japão, a única opção é esperar pelo filme brasileiro prometido pela Sato Company. Eles garantem que agora sai em 2027, risos. Vamos acreditar!

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