Review: 1917

Direção: Sam Mendes
Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Colin Firth, Benedict Cumberbatch, Richard Madden.
Reino Unido/EUA, 2019

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Beleza Americana, de 1999, foi o grande vencedor do Oscar 2000. 20 anos depois, outro filme dirigido por Sam Mendes desponta como favorito ao Oscar de Melhor Filme (tem 10 indicações no geral). Conseguirá repetir o feito? Tudo indica que sim. 1917 é aquele filminho de guerra todo técnico feito pra deslumbrar os votantes do Oscar. Verdade que faz tempo que eles não conseguem a estatueta principal (Até o Último Homem, de Mel Gibson, e Dunkirk, de Christopher Nolan morreram na praia), mas quem sabe a hora não chegou?

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O grande destaque de 1917 é o tão falado e elogiado plano-sequência elaborado por Mendes e pelo diretor de fotografia, Roger Deakins. Muitos acham que 1917 merece o Oscar de Melhor Filme porque deve ter sido “muito difícil de fazer.” Em verdade, o filme simula um corte único como muitos já fizeram antes dele (de Hitchcock a Inarritu). A ideia com esse “corte único” é de criar a ilusão para o espectador de que ele também se encontra em meio a ação, junto aos dois soldados protagonistas do longa, correndo contra o tempo. Mesmo com esse objetivo, o filme não faz força para manter essa ilusão o tempo todo pois existe um corte claro, com direito a salto temporal em determinado momento.


Apesar de ter alguns bons momentos, 1917 cansa antes de encerrar as suas quase duas horas de duração. Isso porque parece que estamos na verdade jogando um Call of Duty impossibilitados de assumir o controle. Outro elemento que atrapalha na tentativa de criar uma genuína sensação de imersão na jornada dos soldados é a trilha sonora, que surge quase sempre de forma irritante, as vezes heroica, outras vezes tristonha ou simplesmente tentando criar momentos de tensão que acabam deixando a sensação que está por vir algum jump scare (o que felizmente não ocorre). A pausa no meio do longa, que divide o plano-sequência, também não faz muito bem dando uma freada brusca em todo o desenrolar do filme, que, apesar dos pesares, até seguia em um crescendo acelerado.

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O maior problema de 1917, no entanto, é o elemento humano. Ou a falta deste. A trama tem como protagonistas os dois soldados britânicos já citados. Blake (Chapman), acompanhado de Schofield (MacKay), recebe a missão quase impossível de atravessar o território inimigo durante a Primeira Guerra Mundial e entregar uma mensagem que impedirá um batalhão inteiro de cair em uma emboscada.

Infelizmente, a dupla não cativa durante todo o percurso. Torce-se por Schofield e Blake, mas simplesmente porque eles são os heróis do filme. Ei, eles hesitam em matar o inimigo em uma guerra enquanto esses não pensam duas vezes em liquidá-los. Eles são os mocinhos. Ok, mas isso não os torna bons personagens de forma alguma. E Mendes sabe disso. Ele os retrata com um certo distanciamento.

O que Mendes quer é criar um espetáculo visual e técnico, investindo na ação e disfarçando aqui e acolá com alguma cena piegas para mostrar que em seu parque temático tem espaço para mostrar os horrores da guerra, mesmo que da forma mais distante possível. Para validar sua obra, ele ainda convoca alguns rostos conhecidos do público para fazer participações nada marcantes, mas dando aquele ar de respeito para a produção. Mas não há reflexão, não há sentimento, 1917 mostra a guerra apenas pelo entretenimento.

Como drama de guerra, 1917 é decepcionante. Como espetáculo, pior, não é nada demais. Os cortes bem editados não salvam o filme. Como experiência sensorial, Dunkirk (que também não gosto) é mais feliz. Excelente fotografia do veterano Deakins (o grande nome do filme? Certamente), mas é de se pensar se esse drama de guerra tão insipido teria chegado onde chegou sem o tão comentado plano sequência \”muito difícil de fazer\”, realmente seu grande destaque e única razão de existir.

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O mote da trama de 1917 me lembrou Gallipoli (1981), dirigido por Peter Weir. Naquele filme um soldado – e corredor – também tem que entregar uma ordem para evitar que uma tragédia se abata sobre um batalhão do qual um amigo faz parte. Infinitamente superior, vale a conferida.

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