A Sindicalista
La Syndicaliste
Direção: Jean-Paul Salomé
Elenco: Isabelle Huppert, Grégory Gadebois, Marina Foïs, Pierre Deladonchamps, François-Xavier Demaison
Alemanha, França – 2022
Essa semana assisti em cabine ao filme A Sindicalista, longa dirigido por Jean-Paul Salomé e estrelado por Isabelle Huppert. O longa, que chegou aos cinemas ontem, 29 de junho, com distribuição da Synapse Distribution, é baseado em uma história real e foi um dos indicados ao prêmio de Melhor Filme da mostra “Horizons” no Festival de Cinema de Veneza de 2022.
A Sindicalista evita abordar com mais profundidade questões sociopolíticas, optando pela perspectiva individual, contando a história de Maureen Kearney, uma representante sindical que denuncia um acordo entre a indústria nuclear francesa e o governo Chinês, que destruiria o emprego de diversos profissionais. A denúncia, claro, irrita poderosos e faz com que a líder sindical sofra ameaças e agressões.
O filme meio que se divide em dois momentos distintos. A primeira parte foca no trabalho de Maureen para investigar e tornar público o tal acordo comercial. Porém, em seguida o filme se transforma em drama de tribunal, quando Maureen é violentada e pouco depois acusada de forjar o ataque para ganhar atenção da mídia.
Dessa forma, o foco principal de A Sindicalista é o processo jurídico e o modo como mulheres vítimas de violência sexual são constantemente desacreditadas e revitimizadas por policiais e juízes machistas. No entanto, o filme é bastante burocrático, apresentando uma narrativa com problemas de ritmo, principalmente na transição entre as duas partes da história, que ocorre de forma abrupta.
A direção de Jean-Paul Salomé consegue algum sucesso em criar desconforto ao espectador com as cenas em que Maureen precisa passar por diversos exames para comprovar a agressão. Mas falha ao tentar criar suspense.
O filme faz menção e flerta com romances investigativos, como se quisesse deixar, pelo menos por um tempo, duas possibilidades em aberto: a de que a sindicalista foi realmente violentada e a de que ela teria surtado e inventado tudo. A falha está no fato do filme ser contato todo da perspectiva de Maureen. Sendo assim, é difícil não ver os fatos através da ótica da protagonista, colocada claramente como vítima de uma conspiração para arruinar sua reputação. Além disso, todos os diálogos com policiais e juízes colocados para frisar a misoginia que transforma vítima em acusada são extremamente óbvios. Não tem como você não enxergar o machismo do investigador responsável e, por alguns segundo que seja, cogitar que Maureen está mentindo. Enfim, acho essa tentativa de suspense uma perda de tempo.
Aliás, foi impossível não lembrar de outro filme com Isabelle Huppert: Elle. Nesse, Paul Verhoeven também conta a história de uma vítima de violência sexual e misoginia, e também faz uso de elementos de suspense. Porém, trata-se de Verhoeven. A acidez e cinismo do diretor impedem qualquer sombra de didatismo.