Coringa
Joker
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Frances Conroy, Zazie Beetz, Marc Maron, Bill Camp
EUA, 2019
Anos 80, Gotham City é literalmente uma cidade imunda. Os lixeiros estão em greve e os ratos (os bichos mesmo) tomaram as ruas. Não é nenhuma novidade quando se trata de Gotham City, mas também cresce uma onda de violência no lugar. Nesse cenário, somos apresentados a Arthur Fleck (Phoenix). Embora não tenha nenhum talento para a coisa, ele trabalha como palhaço. Tem menos graça que o Marco Luque, mas quer ganhar a vida como comediante. Fleck tenta levar sua vida numa boa, mas a sociedade não tem piedade. Como na letra de Franzino Costela, Fleck está sempre apanhando. Todo dia.
Fleck tem problemas psicológicos e, como se as coisas já não fossem bastante ruins, sua terapia é cancelada por falta de verba. Para piorar, um colega de trabalho acha que seria uma boa entregar um revólver para o cara. Não demora para Fleck ser demitido após deixar a arma cair durante uma apresentação em um hospital. Na volta para casa, com tintura de palhaço no rosto, mata três carinhas de Wall Street que resolveram fazer bullying com ele no metrô. Estranhamente essa ação inicia uma revolta popular contra a elite de Gotham, cujo maior representante é Thomas Wayne, que está em campanha para ser o novo prefeito e pode ou não ter uma ligação com o príncipe palhaço do crime.
Coringa me lembra aquelas trocentas revistinhas em quadrinhos que saíram depois de Watchmen e Cavaleiro das Trevas, onde autores acreditavam que o que bastava para seu quadrinho ser adulto era ter muito sangue, violência, palavrões e ainda abordar algum assunto do mundo real, quase sempre com a profundidade de um pires. O filme de Todd Phillips é exatamente isso. Para validar ainda mais a coisa, ele resolveu decalcar toda a obra no clássico Taxi Driver de Martin Scorsese e colocar umas referências a O Rei da Comédia, outro filmaço de Scorsese, aqui e ali.
Mas na verdade, Coringa é só um filminho previsível (grande erro quando se trata de um filme do Coringa) com algumas cenas estilosas que forçam a barra para parecer “filme de arte” como a dancinha solitária do protagonista. As questões politicas e de saúde são tratadas de forma superficial, assim como o anarquismo inerente ao personagem, abordado com mais sucesso em Batman: O Cavaleiro das Trevas. Os planos do palhaço aqui só funcionam porque os outros personagens são burros demais.
Coringa é um vilão, mas claro que o filme que leva o seu nome iria querer torná-lo quase um anti-herói. Arthur Fleck nunca se torna o Coringa ao qual estamos acostumado. Ele rir por fora, mas chora por dentro (algo verbalizado cinicamente por Jack Nicholson no Batman de Tim Burton). Fleck sofre quando mata e até deixa uma das vitimas escapar. A maioria dessas vitimas é detestável para justificar a ação do palhaço e quando ele mata alguém que não…hã…merecia o castigo, isso é feito fora de quadro.
Joaquin Phoenix está bem e salva a produção da mediocridade total, mas mesmo ele já teve diversas atuações mais inspiradas. Infelizmente para ele, Fleck é esquemático demais e tudo o mais é muito preguiçoso. O elenco coadjuvante, inclusive De Niro em sua alardeada participação, não tem muito o que fazer.
Pastiche do cinema de Scorsese, Coringa apenas deita poeira nos olhos de quem está cansado da fórmula Marvel e de agremiações loucas para premiar um filme baseado em quadrinhos. Um filme revolucionário como muito se disse por aí? Coronga apenas consolida o subgênero filme de vilões. Aguardem a parte 2 e o filme do Lex Luthor.