O Dia da Posse
Direção: Allan Ribeiro
Elenco: Brendo Washington, Allan Ribeiro
Brasil, 2021
Dia da Posse, documentário de Allan Ribeiro, diretor e roteirista dos documentários Esse Amor Que Nos Consome (2012) e Mais Do Que Eu Possa Me Reconhecer (2015), acompanha o estudante de direito Brendo Washington durante o período de isolamento social, devido à pandemia de COVID-19.
O filme parte do cotidiano de Brendo, seus sonhos e anseios, para traçar uma reflexão sobre sua geração. Jovens ensinados a sonhar alto durante a infância e adolescência, em um período em que o Brasil se encontrava política e economicamente estável, mas que, ao atingirem a idade adulta, precisam enfrentar uma realidade em que o futuro não parece mais tão promissor. Afinal, vivem em um país que chegou a somar mais de 1000 mortos diariamente, cujo governo bolsonarista desmonta as políticas públicas de bem-estar social, promove a precarização das leis trabalhistas e dissemina a desinformação.
A proposta do documentário é promissora e ele acerta quando seu foco recai na banalidade do cotidiano: o tédio, as receitas de comida, as rolinhas que aparecem na janela, a curiosidade sobre o que fazem os vizinhos, as reminiscências do passado. Tudo isso, aproxima o espectador do Brendo. No entanto, o filme acaba abrindo mão de seu principal charme, que reside exatamente nessa trivialidade, para tentar discutir a dicotomia ficção x realidade.
O Dia da Posse recorre à previsível associação entre o isolamento de Brendo e as filmagens do documentário com o confinamento no reality show Big Brother Brasil. Uma associação até cabível, mas talvez não a mais apropriada, já que estamos falando de um isolamento devido a uma doença causadora de mortes em massa, não de um confinamento voluntário.
O filme ainda utiliza essa metalinguagem para indagar se as pessoas podem realmente ser elas mesmas em frente às câmeras. Para isso, Allan Ribeiro se coloca como personagem, incluindo na montagem momentos em que dá instruções a Brendo ou pede para refazer cenas.
E nesses momentos fica claro que o título do filme, O Dia da Posse, não diz respeito apenas a posse de Bolsonaro e Trump, citadas no documentário, ou ao sonho de Brendo de se tornar presidente. A posse vem também do poder que Allan exerce: de dirigir Brendo, de cortar um assunto e partir para outra cena, de decidir usar o zoom, mesmo quando Brendo pede que não.
Como dá para perceber, o diretor é também co-protagonista. Porém, por mais que Allan esteja ali como observador e, por vezes, direcione a conversa, como o foco do filme é Brendo, parecem um tanto deslocadas as videochamadas entre Allan e sua família, pois ali Brendo praticamente não interage.
Outro problema são as entrevistas que permeiam todo o documentário, uma tentativa de desenvolver um debate maior, para além da exposição do cotidiano do protagonista. Nelas, Allan parece perguntar apenas sobre o que já conhece a resposta, devida a convivência prévia. Tanto pelo modo como introduz os temas, por exemplo, o fato de virem de classes sociais diferentes e Brendo achar algumas posturas de Allan elitistas, quanto a forma como a conversa se desenvolve, fica óbvio que essas ideias e opiniões já foram contadas e debatidas anteriormente. Essas escolhas acabam desperdiçando um protagonista carismático.