Direção: Gustavo Bonafé
Elenco: Kiko Pissolato, Tainá Medina, Samuel de Assis, Natalia Lage, Tuca Andrada, Eduardo Moscovis, Helena Ranaldi, Marilia Gabriela.
Brasil, 2018
A partir de 1 de setembro, o canal por assinatura Space vai exibir semanalmente a série O Doutrinador. A produção vai ampliar a trama do filme homônimo, lançado nos cinemas ano passado, que é baseado em um gibi (gibi não, HQ). Não havia me interessado em conferir a obra até dias desses, provavelmente por causa do trailer risível. Quando soube que iam continuar investindo na coisa, resolvi conferir se ela tem mesmo algum potencial. Seria o nosso V de Vingança? Valei-me Alan Moore.
Mas quem é esse Doutrinador que não se chama Apollo Creed? Well, o alter-ego do anti-herói brasileiro se chama Miguel (Pissolato), um agente federal que perde a filha, atingida por uma bala perdida. Ela acaba morrendo no hospital por falta de atendimento. Em vez de se vingar de quem atirou, Miguel até que escolhe ir atrás do verdadeiro culpado: os políticos corruptos. Até aí, tudo bem para mim. O problema é que O Doutrinador quer ser V de Vingança mas só consegue mesmo ser um filme de ação rasteiro para passar no Domingo Maior. E nem é dos melhores.
O personagem principal é unidimensional. Ele quer vingança e pronto. Repete os mesmos discursos, daqueles bem óbvios que a gente ver nas redes sociais o tempo todo. Tem habilidades especiais quase irreais, mas também é bem burro, um péssimo estrategista. A forma como Miguel ganha a máscara e assume a identidade do mascarado é bem tola e o filme nem diz o porque dele receber a alcunha de Doutrinador. Ele poderia ser o Mascarado, o Matador, o Atirador, o Vingador, o Destruidor, o Punidor, o Justiceiro…
Como o Justiceiro nos quadrinhos, Doutrinador também tem ajuda para lidar com computadores. A hacker aqui é Nina (Tainá Medina), outra personagem desperdiçada assim como o parceiro de Miguel na policia, Edu (Samuel de Assis), e Isabela (Natalia Lage), esposa do protagonista. O Doutrinador talvez fosse memorável se tivesse um bom vilão, mas estão em falta por aqui. O mais interessante é o governador corrupto vivido por Eduardo Moscovis (méritos do ator), mas ele sai de cena logo e sobram apenas uns políticos caricatos que, reunidos em uma mesa, parecem Esqueleto e seus asseclas planejando contra He-Man na Montanha da Serpente. Seus esquemas nunca são detalhados. Eles são corruptos e é tudo que você precisa saber.
Tecnicamente, o filme não é nada demais. As cenas de ação seguem bastante os clichês estabelecidos pelo cinema de ação americano atual. Os tiroteios e lutas são picotados e confusos. Existem vários cortes preguiçosos com uma cena pulando para outra sem muita cerimônia. O visual da cidade é bem bacana, embora lembre uma Gotham City, dos filmes do Nolan, bem genérica. Com um discurso pueril sobre corrupção, personagens extremamente imbecis e final patético, O Doutrinador é aquele filme que vai ser celebrado pela galera que só conhece as comédias fracotes da Globo e os filmecos religiosos da Record e acham que o cinema nacional se resume a isso. O Doutrinador não funciona nem como suposto pioneiro de filmes brasileiros baseados em quadrinhos uma vez que lembra mais qualquer filme genérico de ação, daqueles que faziam a festa das locadoras. Mirou no Alan Moore e não acertou em nada
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A série de TV terá sete episódios de 45 minutos. Resta saber se vai ter um melhor desenvolvimento da trama ou apenas teremos mais diálogos risíveis e muito mais risadas malignas.