O Filho de Joseph
Le fils de Joseph
Direção: Eugène Green
Elenco: Victor Ezenfis, Natacha Régnier, Fabrizio Rongione, Mathieu Amalric e Maria de Medeiros.
França e Bélgica, 2016
No fim de semana, conferi o francês O Filho de Joseph, de Eugène Green, que esteve na amostra competitiva do Festival de Berlim. Cheio de referências bíblicas, o filme é praticamente um farsa barroca sobre paternidade.
Na trama, Vincent (Victor Ezenfis) é um adolescente que deseja saber quem é seu pai, contudo a mãe (Natacha Régnier) se recusa a contá-lo. Por meio de uma carta, ele acaba descobrindo que seu pai é um tal Oscar Pormenor (Mathieu Amalric), um importante editor parisiense.
Vincent vai atrás do pai e fica sabendo porque sua mãe preferiu criá-lo sozinha, guardando segredo da identidade do homem: o cara é um ricaço cínico e arrogante, cercado de bajuladores. E tem outra família, cuja esposa ele trai descaradamente e os filhos, ignora completamente. Vincent desenvolve assim um violento plano de vingança, inspirado no quadro de Canavaggio, O Sacrifício de Isaac, que mostra quando Abraão se prepara para sacrificar seu filho Isaac, mas é impedido por um anjo.
Em meio a seu plano de vingança, Vincent conhece Joseph (Fabrizio Rongione), irmão rejeitado por Pormenor, que é o extremo oposto deste, e eles acabam construído uma amizade que impactará a vida do garoto. Aliás, fiquei pensando no dilema dos tradutores do filme. Abrasileirar o nome do personagem para José ou perder a referência bíblica logo no título?
Falando em referências bíblicas, O Filho de Joseph é dividido em cinco parte e cada uma faz alusão a uma passagem da Bíblia. Em “O Sacrifício de Abraão”, Vincent confronta sua mãe, revoltado com a ausência de qualquer informação sobre o pai. E um pai se negar a fazer parte da vida de seu filho não seria tal qual um sacrifício simbólico, pois o filho não mais existe para ele?
Em “O Bezerro de Ouro”, o jovem conhece o universo de poder e falsidades da alta-sociedade; em “O Sacrifício de Isaac”, Vincent tenta sacrificar seu pai em uma inversão do mito; em “O Carpinteiro”, se estabelece a relação entre Vincent e Joseph; por fim, “O Voo para o Egito”, referencia a fuga de José, Maria e Jesus.
Dessa forma, o longa-metragem, utilizando principalmente a figura de José, fala de como uma relação de pai e filho não está baseada em laços de sangue, mas em afinidades, em estar presente quando se é necessário.
O Filho de Joseph é distribuído pela Supo Mungam Films e chega ao Brasil em 16 de março.