The Post
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Meryl Streep, Tom Hanks, Bob Odenkirk, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Sarah Paulson, Tracy Letts, Alison Brie, Carrie Coon, Jesse Plemons, Michael Stuhlbarg, Matthew Rhys.
EUA, 2017.
O novo filme de Spielberg, em cartaz nos cinemas, está indicado aos Oscars de Melhor filme e melhor atriz e está dividindo opiniões se é o bom Spielberg ou aquele de filmes fraquinhos recentes. Eu considerei o melhor dele nos últimos tempos. Gostei bem mais que “Ponte dos espiões”, seu drama político anterior.
A trama de “The Post” aborda a batalha entre o jornal The Washington Post e o governo estadunidense liderado por Richard Nixon durante 1971, uma guerra pela liberdade de imprensa. Tudo começa quando o New York Times publica os “Pentagon Papers”, documentos ultra secretos sobre a participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, mostrando como os EUA sabiam que aquela era uma guerra perdida e mesmo assim continuaram mandando jovens para a morte, além disso revelava, por exemplo, a interferência dos EUA nas eleições daquele país. .
O Times teve acesso aos documentos através do analista Daniel Ellsberg, e o mais grave na sua revelação é que o encobrimento desses fatos já havia passado por quatro mandados presidenciais dos EUA, Eisenhower, Kennedy, Lyndon Johnson e Nixon. E o governo de Nixon cai em cima do Times, que fica proibido de publicar a continuação dos documentos. Os papeis acabam indo parar no “Post” e assim, a primeira editora jornalística dos EUA Katharine Meyer \”Kay\” Graham (Meryl Streep) e seu editor Ben Bradlee (Tom Hanks), um sujeito considerado difícil para trabalhar iniciam essa batalha nunca antes vista entre imprensa e o governo. Graham se ver dividida entre fazer o papel que a imprensa livre deve fazer, o de denunciar a verdade e o risco de perder seu jornal, legado de seu pai, caso a Justiça dê ganho ao governo.
“The Post” é então um intenso thriller político com ótimos diálogos e interpretações. Spielberg na sua experiência de décadas consegue definir muito bem quando e como usar planos-sequência, tomadas panorâmicas e closes que juntamente com o roteiro de Liz Hannah e Josh Singer e a trilha sonora de John Willians conseguem construir a atmosfera tensa que pairava sobre os jornalistas naquele episódio envolvendo muitas dúvidas e anseios. “The Post” não tem chance no Oscar, é só ver o número de indicações e concorrentes nas mesmas, mas é melhor que Spotlight, que até teve o mesmo Josh Singer no roteiro e levou o Oscar de melhor filme e roteiro em 2016.
O elenco em um filme de diálogos como esse precisa está afinado, e não decepciona. Meryl Streep desenvolve muito bem o modo como Kay enfrenta seus temores e suas dúvidas ao assumir o jornal que foi do seu pai e de seu marido, hora avançando, hora retraindo e demonstrando medo, em outros momentos ela resiste à pressão dos homens que não acreditam que ela conseguirá sucesso no comando do “Post”. Não era nem necessária a forçada que Spielberg faz na cena em que ela sai de uma das audiências e enquanto desce as escadas várias mulheres a observam encantadas como se sentindo representadas. Ser a primeira mulher a comandar um jornal como esse não é pouca coisa, mas ela recebeu o cargo como herança, vinha de uma família poderosa amiga de presidentes dos EUA e de outros como o ex – Secretário de Defesa Robert McNamara (Bruce Greenwood), então essa questão de representatividade vai só até certo ponto. Melhor foi deixar que Meryl Streep na sua performance demonstrasse como a condição de ser mulher naquela sociedade impões desafios que vão além do que um homem enfrenta.
Quanto a Tom Hanks, ele se esforça para compor um personagem diferente do que se especializou, um homem de tons mais rudes e que fala até palavrão, Ben Bradlee, no período do caso de Watergate em que jornalistas também sofreram com a censura de Nixon e o The Washington Post estava novamente no centro da tormenta ele chegou a dizer “Minhas bolas estão em jogo!”, e era acima de tudo um lutador pela liberdade de imprensa. Com o carisma que tem, Hanks consegue compor um Bradlee próximo do real. No clássico “Todos os Homens do Presidente”, que é sobre o Post e a investigação de Watergate iniciada quando cabos eleitorais do Partido Republicano de Nixon instalam escutas clandestinas na sede do Partido Democrata, Bradlee já havia sido interpretado por Jason Robards que levou o Oscar de ator coadjuvante por seu trabalho.
O restante do elenco também cumpri bem sua função. Há entre outras caras conhecidas, Bob Odenkirk sem as características e trejeitos do Saul de “Breaking Bad” e “Better Call Saul”, Alison Brie, Jesse Plemons, também de Breaking Bad e Michael Stuhlbarg, que está em três dos filmes indicados a melhor filme 2018, ao menos dos que já vi, vai que eu ainda o encontro em mais algum, em cada filme faz um personagem totalmente diferente, um ótimo ator.
Assim, ponto para Spielberg, é um filme que tem muito para dizer. Seu conteúdo verborrágico está afastando algumas pessoas, que sentem falta de explosões e aventura, cheguei a ler por aí, que o filme fica o tempo todo num debate se publica ou não publica uma coisa que na verdade não interessa a ninguém. Se acha que saber que seu governo mentiu sobre uma guerra que exterminou um bom número de jovens daquele país e do \”inimigo\” não interessava, o problema não é só com o gosto para cinema, mas de entender História também. Talvez gerações mais novas não percebam a importância que a história narrada aqui teve para o jornalismo e os rumos da sociedade e política. Assim, como o caso Watergate, que começa logo depois o escândalo dos “Pentagon Papers”.
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