Meio como o sertanejo aqui no Brasil, o country costuma ser um gênero associado ao conservadorismo e que não costuma ser reconhecido como um meio que abrace a comunidade LGBTQIA+. Mas nem só de conservadores é feito o country. Prova disso, é o sucesso Old Town Road no ano passado, parceria entre Lil Nas X, rapper negro e gay, com Billy Ray Cyrus. Outra prova é o assunto desse post: o cowboy queer mascarado, Orville Peck.
Orville Peck é um pseudônimo (talvez heterônimo seja um termo mais adequado) e não se sabe a real identidade por trás da máscara de franjas. Com sua voz grave, que lembra artistas como Johnny Cash e Nick Cave, Peck recria a estética western de forma atípica, com colorido e algo de Twin Peaks.
Identidade secreta
Como disse acima, não se sabe o nome verdadeiro ou o rosto de Orville Peck. As únicas informações conhecidas, são as dadas pelo próprio, e portanto, podem não ser reais e apenas o background do personagem.
Segundo Peck, ele nasceu no hemisfério sul (não diz onde), seu pai era engenheiro de som que trabalhou com bandas de glam-Rock e a mãe uma artista; quando criança já fez narração de desenhos animados. Também durante a infância, estudou balé e teatro. Até um vinte e poucos anos, se apresentava em musicais. Com vinte e tantos (sim a datas são precisas assim), foi para Londres estudar na e London Academy of Music and Dramatic Art.
Por conta de algumas informação, muita gente acredita que Peck é, na verdade, Daniel Pitout. Sul-africano (dessa forma, nascido no hemisfério sul), baterista da banda punk canadense Nü Sensae, Pitout também viveu em Londres e atuou em peças e musicais.
Muita gente também aponta que Peck tem algumas tatuagens similaresàs de Pitout.
Pitout esteve em outra banda, chamada Eating Out, em que ele canta:
E aí? Acha que é o mesmo? Não sou especialista em vozes, mas achei realmente bem similar, apenas cantando em um tom diferente. Peck não confirmou nem negou as informações. Sobre manter sua identidade e vida pessoal em segredo, ele diz:
\”A única razão pela qual não falo sobre isso em profundidade não é porque quero me esquivar de quaisquer perguntas, mas porque quero que as pessoas tenham sua própria opinião sobre o assunto. Eu não quero definir. Não acho isso importante\”
– entrevista à GQ
Peck produziu seu primeiro álbum, Pony, lançado em 2019, em colaboração com a Sub Pop.
Como sempre faço por aqui, vamos aos videoclipes de Orville Peck:
Dead of Night (2019)
Direção: Michael Maxxis
Uma característica na música de Orville Peck é serem descritivas, o que acredito ser, na verdade, uma característica do country. No caso de Dead of Night, a usa a descrição de cenas noturnas para falar de um relacionamento que remete à juventude. Printei esse comentário, porque é a síntese perfeita:
Lana Del Rey e Orville Peck incorporam, de forma meio nostálgica, meio debochada, dois símbolos da cultura estadunidense, o cowboy e a bombshell. Além disso, ambos tem a melancolia e a estética cinematográfica como dois dos principais aspectos de seus trabalhos. Esse vídeo, por exemplo, me parece algo que poderia estar em Twin Peaks, que já mencionei anteriormente.
Hope To Die (2019)
Direção: Blake Mawson
Hope To Die é mais uma canção melancólica sobre um amor do passado. Nos primeiros versos, ele canta : “O jeito que éramos se foi/ Assim como os dias em que queimamos/ Tudo ao nosso redor iria queimar”, assim o vídeo se passa no vazio.
A cena de abertura é uma releitura da obra erótica Longhorns – Dance, de 1969, do artista Jim French.
Nothing Fades Like The Light (2019)
Direção: Deni Cheng
Novamente há a descrição de cenas noturnas, dessa vez, para falar sobre aceitar mudanças e o fim das coisas, inclusive da vida. Uma escolha interessante de música para ser ilustrada com bastidores de shows e viagens. É como se disse, “nós estamos nos divertindo bastante, mas isso não vai durar para sempre”
Queen of the Rodeo (2020)
Direção: Austin Peters
Essa foi a primeira música de Peck que escutei. A letra é sobre uma rainha de rodeio, mas também sobre a falta de perspectivas em uma cidade pequena, e não estou falando de trabalho, mas de vida social, de romance. Você pode se arrumar, mas para ir aonde? encontrar quem? As mesmas pessoas, para fazer as mesmas coisas; “este mundo é uma chatice”, como diz a letra. O vídeo mostra os bastidores do rodeio e do concurso de beleza.
Summertime (2020)
Direção: Drew Kirsch & Taylor Fauntleroy
Summertime coloca o verão como um símbolo de uma época melhor, em uma letra que pode ser interpretada como as dificuldades de se lidar com amor, quando se é jovem, mas também como as barreiras ainda maiores que pessoas queer encaram (Pegá-los em fuga, eles punem aqueles que amam jovens/ Nunca na hora certa). No vídeo, flores tomam tomam todo o espaço, inclusive o cowboy.
No Glory in the West
Direção: Isaiah Seret
Extremamente cinematográfico, o vídeo acompanha o solitário cowboy em sua jornada por paisagens isoladas, o que combina perfeitamente com a música, que fala sobre seguir em frente.
Legends Never Die
Direção: Cameron Duddy
O feat com a musa country Shania Twain é a canção menos melancólica que ouvi de Peck. De certa forma, ela toca no mesmo tema de No Grory in the West, não ficar parado, porém sem a tristeza da anterior, é mais sobre acreditar em si mesmo e correr atrás dos seus sonhos. O vídeo também reflete isso, com pessoas se reunindo para curtir o show de Peck e Twain.
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