Review – Infiltrado na Klan

BlacKkKlansman
Diretor: Spike Lee
Elenco: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Robert John Burke, Topher Grace, Alec Baldwin, Harry Belafonte.
EUA, 2018

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Infiltrado na Klan concorre a seis Óscars: Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Montagem, Melhor Ator Coadjuvante (Adam Driver), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme. Para chegar na temática que o filme aborda começamos com alguns números; com mais de 30 anos na indústria do cinema e vários filmes relevantes no currículo essa é a primeira indicação para Spike Lee como diretor, as duas que teve anteriormente foram Melhor Documentário por 4 Little Girls e Melhor Roteiro Original por Faça a Coisa Certa em 1990, e Lee é apenas o sexto negro indicado a Melhor Diretor, os outros foram John Singleton, Lee Daniels, Steve McQueen, Barry Jenkins e Jordan Peele, que é produtor de BlacKkKlansman.

Apesar do que muitos malucos, supremacistas, conservadores, etc. dizem, o racismo existe e é estrutural, mesmo alguém em posição consolidada numa indústria como Hollywood não está livre de seus efeitos, ou você vai dizer que o pouco número de negros indicados é por que não há muitos trabalhos de qualidade feito por negros? Percebem o discurso supremacista branco imbutido na negação do racismo?

Infiltrado na Klan, mas do que o racismo praticado por pessoas no cotidiano que filmes que a academia indica geralmente abordam, trata exatamente desse racismo estrutural, daí sua relevância.

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O roteiro da película aborda a história real de Ron Stallworth, contada no livro do próprio. Ele é um policial negro do Colorado, que enfrentando o racismo da própria polícia tenta se firmar como detetive. Em 1978 após o colocarem para investigar ações de um grupo ligado ao movimento negro que lutava por diretos civis ele acaba entrando em contato com a organização supremacista branca e cristã Ku Klux Klan. Assim, ele arquiteta um plano para se infiltrar na seita e investigá-los se comunicando com os outros membros da KKK por meio de telefonemas e cartas, na necessidade de encontra-los pessoalmente entrava em cena Flip Zimmerman (Driver), que passava a ser Ron. A estratégia de Ron impediu linchamentos e ataques terroristas do grupo racista.

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A Ku Klux Klan que surgiu em 1866 no Tennessee, no sul dos Estados Unidos e aumentou de força após 1915 quando foi lançado O Nascimento de Uma Nação de D. W. Griffith, para ter uma ideia a prática de queimar cruzes foi adotada pela seita após Griffith colocar no filme na busca por uma imagem impactante, até então não havia isso, já foi retratada por diversos filmes, Lee consegue abordar o discurso supremacista da KKK mostrando todo o absurdo da ideia de supremacia branca, algumas vezes até soam como caricaturas.

Spike Lee, como de costume, organiza a história com liberdades criativas da maneira que lhe convém para atingir seus objetivos, um filme que discute uma questão séria fazendo inclusive paralelos com Trump e o atual momento dos EUA e do mundo, e ao mesmo tempo o filme diverte. Para isso usa de comédia e altera pontos até mesmo em relação a época da história em que o filme se baseia, faz referências a blaxploitation, etc. nada incomum para qualquer adaptação feita por um diretor autoral como ele.

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Para realizar seu objetivo de fazer uma obra atemporal sobre racismo Lee dá destaque para outros fatos históricos sobre o tema como a triste história de Jesse Washington narrada no filme de forma tocante por Jerome Turner (Harry Belafonte), o menino negro Jesse tinha 16 anos quando foi injustamente acusado de estupro e coagido por policias para se confessar, foi morto por linchamento.

O filme fecha com imagens de protestos neonazistas no ano de 2017 em Charlottesville no estado de Virgínia nos EUA que gerou conflitos, mostrando como as questões que o filme aborda estão fervilhando atualmente, e a fala do presidente Trump minimizando dizendo que os dois lados eram violentos. O filme cita Heather Heyer, de 32 anos, assistente jurídica branca ativista por direitos civis atropelada e morta propositalmente no protesto por um homem que feriu outras dez pessoas.

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Os diálogos sobre Black Power, Panteras Negras, a verborragia do líder da KKK David Duke (Topher Grace) vão fazer qualquer pessoa atenta perceber como Lee está usando uma história de décadas atrás para falar do agora. Porém o filme não se torna panfletário devido a excelente condução de direção, fotografia, montagem e o excelente elenco, não apenas Driver indicado ao Óscar, mas John David Washington, Grace, etc. estão muito bem.

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Sabemos que o Óscar tem alternado anos com poucos negros indicados ou nenhum e anos como esse em que indica negros e filmes que abordam essas questões, mas Infiltrado na Klan abordando de forma direta a temática têm realmente qualidade para está concorrendo, assim como Pantera Negra, com elenco quase 100% negro e perpassando o tema, que tem sido muito contestado por ser filme de super herói da Marvel, mas num ano com filmes fracos como Bohemian Rhapsody e Green Book (que toca no tema da forma rasa que racista camuflado gosta) concorrendo, Infltrado na Klan, Pantera Negra e Roma ficam cada vez melhor.

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