Os Desajustados
The Misfits
Direção: John Huston
Elenco: Marilyn Monroe, Clark Gable, Eli Wallach e Montgomery Clift
EUA, 1961
Os Desajustados, drama dirigido por John Huston, não foi um grande sucesso comercial, mas ganhou muitos elogios da crítica, principalmente por conta das ótimas atuações do quarteto de protagonistas. Uma curiosidade sobre que o filme, é o modo como este se entrelaça ao famoso romance entre o escritor Arthur Miller e Marilyn Monroe. A novela original foi escrita em 1957, ano em que o dramaturgo estava em Reno (cidade em que se passa a história) e tentava divorciar-se para poder se casar com a diva. A adaptação para roteiro cinematográfico, por sua vez, aconteceu em 1960. Contudo, foi durante as conturbadas filmagens do longa que o casal separou-se definitivamente.
Os Desajustados acaba sendo uma despedida a dois dos maiores astros da história do cinema. Clack Gable teve um infarto três dias após o encerramento das filmagens e morreu 11 dias depois, aos 59 anos. Já Marilyn seria encontrada morta em sua casa, em agosto de 1962, deixando Something’s Got to Give inacabado. Sendo assim, Os Desajustados foi seu ultimo filme concluído. Lamentável, já que este poderia ter sido a guinada em sua carreira, já que aqui ela mostra que pode ser mais só que a garota sexy e ingênua, perfil comum a suas personagens anteriores.
Os Desajustados é um título é bastante apropriado, assim como os posters que mostravam um quebra-cabeça. O filme acompanha personagens deslocados, que não se ajustam em lugar algum. Marilyn é Roslyn, uma recém divorciada, que não sabe o que fazer da vida. Gable é Gay Langland, quase uma caricatura da imagem de herói que o ator construiu ao longo da carreira, um cowboy melancólico, obcecado pela liberdade e que se sente deslocado em meio as mudanças no mundo ao seu redor. Aliás, Gable não utilizou dublês para realizar a sequência final do filme, na qual ele é arrastado por um cavalo. O esforço equivale ao do personagem vivido pelo ator, que se arrisca a domar sozinho um cavalo selvagem, apenas para mostrar que ainda é capaz de fazê-lo.
Completando o elenco, Eli Wallach, antes de ser o feio em outro clássico, Três Homens em Conflito, é Guido, amigo de Gay, um piloto traumatizado pela guerra, outro personagem desiludido e triste. Roslyn é convidada por Guido a ocupar sua casa, onde ele não mais vive, por não conseguir conviver com o fato de sua esposa ter morrido ali. Entretanto, é com Gay que Rosalyn se envolve. Mais tarde surge o peão Perce (Montgomery Clift), sempre sem dinheiro. Temos então um “quadrado amoroso”, com os personagens bebendo, dançando e aparentemente tentando se divertir, mas, na verdade, ocultando seus demônios internos.
Não há como não associar Roslyn a real Marilyn. Em determinado momento, Gay diz que nunca conheceu uma garota tão triste e Roslyn responde que ele é o primeiro a notar isso, já que todos a descrevem como feliz. Roslyn é uma mulher extremamente sensível e com uma capacidade de alteridade que a leva a se preocupar com o bem-estar de todos, dos três homens que a cercam ao coelho que Gay quer matar por comer sua horta de alface, passando pelos cavalos selvagens que os cowboys se unem para caçar, no clímax do filme.
Roslyn e seus cowboys acabam representando o conflito entre a mulher e o que a sociedade espera dela (na época, mas, com menor intensidade, ainda hoje). Gay lamenta não ser próximo de seus filhos e vê no enlace com Roslyn uma segunda chance de ser pai. Ele ajuda-a com a casa, planta flores para ela e, em troca, pede um filho; Guido quer uma esposa, igual a sua falecida mulher, que trabalhe sem parar e sem jamais fazer reclamações, como ele enfatiza; já Perce quer uma substituta para sua mãe, que se casou novamente e, ele afirma, não é mais a mesma. Nenhum deles está preocupado com o que deseja Roslyn. Até a magistral cena final, quando os cowboys vão até o deserto, atrás de cavalos selvagens e em que ela finalmente coloca para fora o que sente.