T2 Trainspotting
Direção: Danny Boyle
Elenco: Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Robert Carlyle, Anjela Nedyalkova, Kelly Macdonald, Shirley Henderson, James Cosmo.
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, 2017.
Chegou aos cinemas brasileiros na semana passada T2 Trainspotting. 20 anos depois o diretor Danny Boyle volta as origens e a turma toda está junto com ele, Mark Renton (McGregor), Sick Boy (Miller), Spud (Bremner) e Begbie (Carlyle). Agora mais velhos, mas não menos problemáticos.
Mark aparentemente levando uma vida normal sem vícios retorna para Edimburgo afim de acertar contas com seu passado, ou seja, sua família, o que restou dela é o seu pai, já que sua mãe já faleceu sem revê-lo; e seus amigos, de quem ele roubou 16 mil dólares que seria dividido entre todos. Então óbvio que esse reencontro não é nada tranquilo. No decorrer percebemos que a vida de Mark não está tão melhor assim, tanto que ele é facilmente convencido por Sick Boy a embarcar com ele em nova empreitada.
Assim nós também reencontramos Spud, sem esperança de se livrar da heroína ele sofre por perder a esposa e o filho; Simon ou Sick Boy, que continua tendo planos mirabolantes e agora quer construir um bordel para Verônica (a búlgara Anjela Nedyalkova) , nova e bem-vinda personagem da trama, que ele pensa ser sua namorada; e por fim, Begbie, que estava na prisão até conseguir fugir. Uma vez livre ele volta para a esposa e filho, que acredita conseguir transformar num criminoso a sua imagem e cada vez mais insano vai querer acertar contas com Mark e a velha turma.
O primeiro Trainspotting virou cult, um verdadeiro clássico do cinema moderno, grande símbolo da cultura junkie. Por que fazer um segundo filme? A resposta é nostalgia. Por isso o filme funciona, já era de se esperar que o filme não trouxesse grandes inovações e surpresas. O grande lance é reencontrar esses personagens e ver como estão duas décadas depois.
Considerei a primeira parte do filme a melhor, exatamente porque é a que mais resgata a atmosfera do primeiro filme, com os personagens se encontrando e em meio as drogas e o caos vamos entendendo suas vidas e suas sinas. Na segunda parte a trama caminha de modo diferente, quase tradicional, quase clichê, Begbie vira quase o vilão da trama, cheguei a pensar que ia ter uma grande moral ou redenção, ainda bem que ficou no quase.
Tem coisas características de Trainspotting que estão lá, a excelente trilha sonora, a edição ágil, os planos e ângulos que tornaram Boyle famoso. Porém, o tempo afastado de obras do tipo de Trainspotting ou Cova Rasa, enquanto adentrou o cinema mais palatável a prêmios e ao grande público fazendo Quem quer ser um milionário, por exemplo, parece ter afetado Boyle, além do que falei no paragrafo acima, mais coisa mudou na narrativa e na atmosfera, há muitos momentos engraçados que faz a platéia rir, e não é como no primeiro filme, que você rir porque é bizarro, muitos riam de nervoso. Aqui as risadas ocorrem porque foi feito para rir mesmo. Há pouca bizarrice, escatologia e nenhum momento mais pesado, que as drogas costumam trazer e havia no primeiro. Há pouca viagem.
Sobram, porém, lembranças do primeiro filme, algumas cenas bem colocadas como a divertida participação de Diane (Kelly Macdonald), outras nem tanto. O momento mais louco é o discurso de Mark para Verônica, explicando o “escolha sua vida”, com um Ewan Macgregor inspirado e um excelente texto é, talvez, a melhor cena do filme.
Ao terminar sabemos que há histórias possíveis de se pensar para mais um filme com esses personagens, mas eu espero que não queiram fazer uma trilogia, porque quando se requenta muito algo a tendência é a maldição do terceiro filme atacar novamente.